sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Um Dia Obscuro



Ele chegou tão cedo naquele dia.  De fato me surpreendeu, pois ele só voltaria para a casa na semana que vinha. Sentou-se no nosso sofá e começamos a conversar como há anos não conversávamos. Pediu-me uma xícara de café e alguns biscoitos; ele simplesmente adorava. Disse-me as novidades do seu trabalho. Sobre as viagens que realizou; sobre a distância que sempre nos afastava e se lamentou muito chorando em meu colo. Advertiu-me que nunca, jamais me esqueceria, e que nunca me trairia; e que se algum dia, algo de grave acontecesse, para que eu não me desesperasse, pois ele estaria sempre do meu lado, fosse o que fosse. Abracei-o amorosamente e lhe pedi para que nunca mais falasse sobre isso, que ainda viveríamos muito, que sorriríamos muito e que ainda passaríamos muitos dias felizes como aquele, em que estávamos vivendo. Ele, de certa forma, concordou comigo e nos abraçamos mais forte ainda. “Não sei se você sabe, amor...”, disse eu a ele, “amanhã faremos cinco anos de casados”. “E como eu poderia esquecer isso, meu amor? Foi por este e outro motivo que justamente eu cheguei cedo de viagem”. “Ora”, Disse eu a ele, “e que outro motivo é este, posso saber?”. “Saberás no final do dia”, disse-me ele com um sorriso entremeado com uma breve tristeza.

Posso afirmar: aquele era para ser o dia mais feliz da minha vida. Relembramos, sentados no banco do jardim, todos os lindos momentos em que vivemos. O dia que nos conhecemos; o dia em que ele, todo tímido, pediu-me em namoro para os meus pais que o olharam com os olhos brilhando reconhecendo que ele era uma ótima pessoa; o dia do nosso casamento, marcado para sempre em nossas vidas. Lindos momentos.

Nem percebemos o tempo passar. A noite sorria e brilhava para a gente. Ele colocou a nossa música de casamento para dançarmos. Dançamos divinamente, e parecia que tudo aquilo era a primeira vez. Foi quando de repente ele olhou nos meus olhos e disse:  ”Por que você fez isto comigo? Me magoaste muito".  “O que fiz?”, disse eu. “Você sempre me traiu, eu sei disso”. Não sei como ele havia descobrido aquilo.

“Acalme-se”, disse eu, e fui pegar mais biscoitos. Ao voltar ao nosso jardim, vi apenas a cadeira de balanço vazia, sem ele. Ela ainda estava balançando. Os biscoitos e o café, que eu havia trazido ainda na primeira vez, estranhamente ainda estavam lá. “Que estranho, ele os comeu”, disse eu. “Amor! Amor! Onde está você, pelo o amor de Deus!”. Foi quando o telefone tocou, e eu corri para atendê-lo. Ao atender, recebi a notícia de que o avião dele havia caído.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O Doentio Caso Dos Irmãos Disformes




- Esta intimação deverá ser entregue neste endereço... – Disse um cidadão de bigode espesso e hálito forte de tabaco e café. 

 Os dois policiais, Ulisses e Gabriel, se dirigiriam então ao endereço dado pela a sua chefia. Um endereço que o experiente policial Ulisses pegou com relutância. Ulisses era um daqueles caras que sempre evitava ameaças, riscos, lugares inescrupulosos. Para você ter uma ideia, em seus vinte e poucos anos de profissão, Ulisses nunca sacou a sua arma, e, obviamente, nunca atirou em ninguém. Conhecia a má reputação daquele endereço e sempre evitava passar por lá. Casos bizarros eram ditos por populares, tanto transeuntes como próprios moradores da área. Seres estranhos rodeavam a extensa viela de aproximadamente duzentos metros. Os mais supersticiosos diziam que os seres eram criaturas de outro mundo. Seres completamente estranhos e macabros. Possuíam os olhos ardentes como uma chama e suas cabeças eram idênticas a óvnis. Já os sensatos diziam que eram apenas sádicos e estupradores; possuidores de máscaras, que o que a viela precisava era de uma ronda diária de guarnição policial.

Ulisses contava tudo aquilo, com receio ao jovem Gabriel, novato e sedento a ação.

 - O que na verdade você teme, Ulisses? – Perguntou o policial Gabriel.

- Pode ser um conto popular – Disse Ulisses conduzindo a viatura policial e se dirigindo ao local ordenado pelo o chefe. – mas as mortes são verdadeiras. Tenho uma tia que mora naquela viela, cara. E ela afirma já ter visto várias vezes dois seres, um com a cabeça de porco e outro com feição de sapo, rondarem as ruazinhas de madrugada, provavelmente procurando vítimas.

 - Ora essa. – Disse Gabriel. – Quantos anos têm a sua tia?

- Isso é irrelevante dizer. O que é mais importante neste momento, meu caro, é que vamos bater na casa onde estes dois seres foram vistos, pois aconteceu mais um crime na viela na noite passada e vítimas afirmam dizer severamente que estes dois anormais vieram de lá.

 - Bom, mas quem mora na casa?

- Um idoso ranzinza demasiado misantropo. Dizem ser o mais antigo vizinho do beco. Depois que sua mulher e seu filho faleceram, de tuberculose, o velho se enclausurou com a sua filha mais nova em sua casa de uma tal forma, que poucos o viam. Anos mais tarde, foi á vez de sua filha, na época com vinte e cinco anos, vir a morrer.  A solidão, às vezes, esmiúça até mesmo um eremita, meu caro. Apelamos até para a maldade para não ficarmos só.

- O que você quer dizer com isto Ulisses? – Disse o jovem policial mostrando interesse pela a conversa.

- Nada, meu caro. Eu só quero minha aposentadoria, nada mais que isso. Só me faltam dois meses.

- Fale-me. Você tem algo em mente. Compartilhe.

- Não é nada. Só posso lhe afirmar que não estamos sozinhos nesta terra. – O jovem policial franziu o sobrolho bastante admirado. – Você, se estuda um pouco a antiguidade, há de convir que os homens adoravam seres completamente esdrúxulos, principalmente os egípcios. As esculturas em pedras são uma prova disso, bem como as artes desenhadas em grandes rochas. Lá podemos ver vários seres com um formato diferente. Homens com cabeça de lobo, metade homem metade cavalo. Enfim, várias deformações, e os homens os tratavam como deuses. Sim, Gabriel; aquele velho doente adora essas imagens e, de alguma forma, lhes deu vida.

 Gabriel lhe olhou de soslaio, muito desconfiado, e disse:

- Bela historia, Ulisses. Você quase me convenceu.

- Não seja sarcástico.

- Não estou sendo, amigo. Você realmente precisa se aposentar. – Disse o jovem sorrindo.

- Bom, é aqui. – Disse Ulisses parando o carro.

Os dois desceram e bateram na casa do senil idoso.

Não foram recepcionados. “Era de se prever”, disse Ulisses.

- Senhor, temos ordem de entrar em sua residência nem que seja a força. Por favor, colabore.

Quando os dois se programavam para derrubar aquela porta, ela se abriu lentamente causando um ruído agonizante. Os dois entraram cautelosamente. Ulisses mantinha sua arma em sua cintura, já o jovem Gabriel já havia sacado a sua.

- Guarde isso, seu imbecil. – Disse Ulisses furiosamente.

- Senhor, podemos conversar? – Disse Ulisses alterando a voz.

Mais uma porta se abriu, dessa a vez do segundo andar da casa. Os dois subiram e, enfim, encontraram o velho sentado em uma cadeira de rodas e em avançado estado de decrepitude. Uma luz fraca iluminava malmente o quarto lúgubre.

- Entrem. – Disse este.

Continuou...

- Queiram me desculpar por não ter ido lhes recepcionar, é que realmente não houve tempo suficiente. Porém lhes respondi. Ouviram-me?

- Não senhor! – Disse Gabriel.

- A minha voz já não é mais como antes! Mas digam-me, que privilégio de visita é esta, podem me dizer?

- Senhor, o senhor mora só? – Perguntou Ulisses.

- Praticamente.

- Ok, senhor. Tente colaborar com a gente. Na noite passada ocorreu um crime hediondo perto de sua localidade. Um homem teve a sua cabeça devorada. Peritos alegaram que a sua cabeça foi degolada por dentes. Um enorme animal o devorou.

- Bom, mas o que eu tenho a ver com isso, meu jovem? Você está me assustando.

- Testemunhas alegaram veementemente que o animal pulou o muro de seu quintal, e que logo depois sumiu.

- Meu quintal é sempre alvo de peraltas, senhor.

 - Sei, senhor, mas acontece que não é a primeira vez que eles pulam para o seu quintal. Os vizinhos acreditam que o senhor lhes dá moradia. Ter animais nocivos é crime.

Os olhos do velho se ruborizaram e suas veias pareciam que iam espocar.

 - Como ousa chama-los de animais, seu imundo! Lave a boca para falar de meus filhos.

- O QUÊ?

O ser de feição de sapo, então, surgiu e soltou uma gosma verde de sua boca em cima do jovem Gabriel que aos poucos foi se derretendo. Aquela gosma ácida aguou o pobre rapaz. Ulisses ficou petrificado com a cena. Surgiu, então, o seu irmão com a sua feição de porco.

- Suponho que esteja muito admirado, né soldado! Sim, com certeza. Ah, aquela vadia. Não era para ter terminado assim. Juro para você que não. Uma mãe jamais deve negar o seu filho, independente de como seja, concorda comigo soldado? – Ulisses meneou sua cabeça. – O primeiro a sair foi o Jimme, que os insensatos chamam diabolicamente de feição de porco. Depois veio o Jenny, o feição de sapo. Eu mesmo fiz o parto. Quando ela os viu, a maldita gritou como uma louca: “MONSTROS, MONSTROS, SÃO TODOS MONSTROS, MEU DEUS”. As crianças indefesas apenas choravam. Como pode uma mãe odiar um filho do modo como ela odiou! Com a mesma navalha que usei para tirar meus meninos daquela bruxa, enfiei no pescoço dela fazendo espirrar sangue sujo nos meus bebês. Ela serviu de alimento para eles. Em vez de leite, ela lhes deu sangue. As crianças lambiam aquele sangue imundo de suas mãos e do chão. Chupavam avidamente. E até hoje eles adoram o sangue. É o alimento deles.

- De quem você está falando? – Perguntou Ulisses, agoniado.

- De minha filha, soldadinho.

 Ulisses, que nunca havia sacado a sua arma antes, desferiu apenas um tiro no coração do velho lúcido.

As crianças, de fruto incestuoso, choravam pela a morte do amado e diabólico pai. Ulisses não teve coragem de atirar nas crianças. Pareciam indefesas lamentando a morte do pai satânico.


Por Patrik Santos

sábado, 26 de outubro de 2013

A Mulher Perfeita




E é com um estilete bem afiado que Eliot remove aquela pele macia, aquele rosto que por tantas vezes enlouqueceu, enamorou homens de todas as classes sociais. Eliot finca o objeto pontiagudo na cabeça de Rose, mulher de beleza natural, a mais linda da sociedade medieval, e dividi, separa aquela face, corta meticulosamente fazendo espirrar sangue por sua bata. Aquela face, antes feliz, orgulhosa por sua beleza, se torna frígida, perde-se a sua expressão, porém a sua beleza continua intacta. Eliot precisa apenas daquela fina camada, Eliot quer apenas a sua face. O resto Eliot jogará no rio de cor rubra. Não lhe interessa. O resto ele trata como um lixo.

As pernas detalhadamente torneadas de Margareth sempre hipnotizaram o contemplador de beleza Eliot. Porém aquela beleza lhe era única. Eliot só tinha olhos para aquelas pernas. Brilhavam, encantavam. Para retirar aquelas lindas pernas de Margareth, Eliot afiou um facão por semanas. Ela deveria estar bem afiada, pois só precisava de um golpe. Aquele golpe teria de ser um pouco acima da cintura, com exatidão em cima de seu umbigo, onde os ossos são mais frágeis, mais simples de se partirem. Aquele golpe dividiria Margareth em dois. O que Eliot precisava era apenas de suas pernas, e nada mais. Pare ele, o resto era lixo. Partiu-a. Com uma pequena serra, Eliot excluiu aquele sexo feminino e também lhe joga no rio. Detalhou as pernas e o guardou junto com a camada fina da face de Rose.

Os seios rosados de Julie eram excitantes. Mamilos perfeitos. Na verdade Eliot se apaixonou por quase tudo de Julie. Seus cabelos, seus braços, sua barriga e suas nádegas. Eliot desferiu um golpe tão forte na cabeça de Julie, que esta caiu desfalecida no chão úmido de sangue. Cortou os pulsos e puxou a pele de Julie. Eliot teve muito trabalho com esta. Precisava de toda esta região e lhe foi puxando sem descascar. Assim como se tira um coro de animal, assim Eliot puxou a pele da moça. A macabra cena foi encerrada com um golpe de facão na têmpora da moça. Eliot, como dito antes, precisava dos cabelos de Julie. Assim, o coro cabeludo foi retirado, e Eliot jogou o resto no rio, pois nada mais lhe aprazia.

Eliot adorou a filha do reverendo, e sabia, indubitavelmente, que a moça era virgem. Precisava daquela vagina. Eliot não teve tanto trabalho assim: perfurou com uma enorme agulha aquela cavidade e lhe tirou cuidadosamente, sem lhe corromper. Pronto! Eliot tinha aquela pureza em suas mãos.

Estava quase tudo pronto. Ninguém diria que aquele ser estava remendado. Era uma beleza sem igual, a mulher mais perfeita já feita, só lhe faltava uma vida. Mas para se ter uma vida, precisa-se de um coração e 
Eliot não encontrou este perfeito coração. E Eliot havia se esquecido deste pequeno, e ao mesmo tempo, grande detalhe.

Infelizmente Eliot não encontrou aquele coração, porém o procurou até os últimos momentos de sua vida, pois sabia que existia.

Por Patrik Santos

terça-feira, 16 de julho de 2013

O Piso que Cedeu



- Que desvairada! O plano não era apenas enforca-la! Agora há vestígios de sangue por toda a casa.

- Acalme-se! Vamos limpar tudo isso imediatamente e embrulhar este presunto. – Disse a mulher.

Sons veem da escada do apartamento.
Toc, toc,... Batida na porta.

- Merda! Quem será? – Diz a mulher.

- Vou averiguar.  – Diz o homem.

Ao olhar pelo o olho mágico, o homem só consegue ver uma pinta negra.

- Porra! Alguém está tampando o olho mágico com o dedo. – Diz o homem.

- Pergunte quem é e despeça-o.

- Diga! O que deseja! – Diz o homem com a porta semiaberta atada por uma correntezinha.

- SURPRESA! – Dizem aproximadamente sete ou oito pessoas.

O homem solta um funesto sorriso com sua testa ensopada de suor, deixa cair um bilhete soberbamente premiado, e diz: “Só um momentinho”.

- Esqueci literalmente que hoje é meu aniversário. Familiares meu e de Rose estão aí fora para festejar essa merda. E fazia anos que eu não recebia uma festa surpresa. Puta que pariu; justo hoje!

- Rápido! Não á tempo de se lamentar.  – Diz a mulher, afoita. – Vamos despeja-la neste piso removível. Rápido!

Removem o piso. O homem segura as mãos e a mulher as pernas da morta e jogam o corpo, inerte, num espaço demasiado apertado.

- Vamos, Jonas! Abra a porta. – Grita um dos visitantes.

- Já vou indo. Só um momento.

- Droga! O espaço é muito pequeno. A cabeça vai ficar para fora. E agora, meu Deus!

- Vamos degola-la.  – Diz a mulher, de forma alguma, sugerindo aquilo.

- Você está realmente louca. Não vou fazer isso.

A mulher, então, vai até a gaveta, onde se encontra os talheres, e de lá tira uma enorme faca e enfia bem no âmago do pescoço da morta, e começa a degola-la friamente. A impávida moça era observada com espanto pelo o marido da morta.

- O que fizemos! – Dizia ele.

Ao terminar de degolar a mulher, a amante de Jonas pega a cabeça e a despeja na lata de lixo, que se localiza na cozinha, e rapidamente limpam o sangue com um alvejante, e dentro de dois minutos a cena do crime está incrivelmente remediada.

A amante de Jonas se escondeu em um compartimento da casa e Jonas, enfim, dirigiu-se a porta para recepcionar os visitantes.

- Boa noite, gente! Mãe, tudo bem? E você irmã? Oi sogra, oi sogro. Tudo bem cunhada? Oi sobrinho! E quem é este rapaz aí com você, cunhada?

- É meu noivo. Noivamos hoje, né amor!

- Sim. – Disse o homem com um sorriso benévolo.  – Prazer, Ruy.

- Prazer, Jonas. Queiram sentar, por favor.

- Onde posso pôr a comida que trouxemos, filho? – Perguntou a sua mãe.

- Ah, dei-me aqui, por favor. Deixe que eu ponha na mesa. – Respondeu Jonas.

- Onde está Rose, Jonas? – Perguntou a sogra deste.

- Bom, ela saiu para comprar algo. Vai ver é meu presente.

Todos sorriram consideravelmente. Jonas chorava por dentro.

- É realmente uma surpresa enorme. Eu jamais adivinharia que vocês viessem.  – Disse Jonas.

- Ainda bem que Rose sabe guardar segredo. – Disse a sua cunhada.

- Ora; então ela sabia?

- Sim, claro.

- Mas que cheiro forte de alvejante é este, filho? – Pergunta a mãe de Jonas.

Jonas hesita por alguns segundos e responde:

- Bom. Vomitei há uma meia hora atrás. O almoço do meu trabalho não me fez muito bem. Ainda estou um pouco pálido, como vocês podem ver.

- E parece que aqui teve uma luta corporal! – Diz o seu sogro reparando na bagunça da casa.

- Há, há, há. É verdade, Jonas. Você sempre foi um homem sistemático. Muito me estranha essa bagunça. – Diz o seu pai.

Jonas agora soa como uma panela de pressão.

- É o cansaço. – Responde Jonas de imediato.

- Em quê você trabalha, Ruy? – Perguntou Jonas ao noivo de sua cunhada com o intuito de desviar o assunto.

- Sou detetive. – Respondeu.

Jonas custou a engolir a saliva que o viera. Parecia uma enorme avalanche.

“Por que fui mudar de assunto!”. Monologou.

- Que ótimo! – Respondeu ele.

- Será que Rose vai demorar? – Perguntou a sua sogra.

- Logo, logo ela chega. – Respondeu Jonas.

Ruy mantinha uma expressão circunspecta. Pouco falava. Apenas observava.

- Oras, vamos pôr uma música, beber e dançar um pouco. – Sugeriu a irmã de Jonas.

Todos gostaram da ideia e uma música foi posta. A bebida foi servida pela a irmã de Jonas que servia os visitantes com uma bandeja. De repente foi até a cozinha para jogar um lixo fora. Quando ela ia pisando no pedal da lixeira para suspender a sua tampa e jogar o lixo, esta foi interceptada grosseiramente por Jonas que a empurrou violentamente.

- Por que fizeste isso, Jonas? – Questionou sua irmã.

- Desculpe irmã. A verdade é que não me sinto bem, mesmo. Deixe que eu jogue este lixo aí. Não se preocupe.

Os visitantes, visivelmente embriagados, dançavam com passos pesados sob o piso de Jonas. O piso começava a oscilar.

Jonas, enfim, se apercebeu que seu sobrinho havia sumido da sala de estar e da cozinha. “Que capeta”, disse. “Onde ele deve estar?”.

O garoto de dois anos havia ido, justamente, no esconderijo improvisado da amante de Jonas: no quarto. Quando a amante viu o garoto, correu para o único banheiro da casa que se localizava de frente ao quarto de Jonas.

- Onde fica o banheiro? – Perguntou Ruy a sua noiva.

- Ah, você pode ir direto naquele corredor que você vai parar lá. Fica de frente para um quarto.

- Obrigado!

Jonas procurava o garoto pelos três quartos da casa. Encontrou-o justamente no seu. Temeu por achar que o garoto houvesse encontrado sua amante. “Ela deve estar bem escondida”, pensou ele puxando a criança pela a sua orelha. De repente viu Ruy no corredor dirigindo-se ao banheiro.

- O... banheiro! – Sorriu Ruy.

- Pois não. – Sorriu forçadamente Jonas.

Quando Ruy abriu a porta do banheiro e ligou a luz, viu a amante de Jonas toda encolhida sentada ao lado da privada.

- Mas o quê você faz aqui, moça? – Perguntou ele.

- Bom...bom...eu sou doméstica da casa. Senti-me mal e vim ao banheiro, porém minha dor ainda não passou.

- Bom, desculpe-me. Vou me retirar.

- Não, fique a vontade, amigo. – Disse ela.

Ruy sabia, e agora tinha certeza, de que havia alguma coisa errada na casa.

Ao passar pela a cozinha, sobre os olhares de Jonas que estava na sala, Ruy avistou no chão várias gotas de sangue que vinham desde a sala até a cozinha, perto da lixeira. Ruy seguiu aquelas gotas sorrateiramente, e Jonas esbugalhava os seus olhos olhando-o. Ruy viu então, ao lado da lixeira, uma faca molhada de sangue. “Que estranho. Muito estranho.” Jonas sentiu o seu coração querer lhe sair pela a boca. Ruy virou-se e voltou para a sala de estar.

- Acabei de vê sua secretária no banheiro, Jonas. Acho que ela está passando mal.

- Secretária? – Perguntou juntos os pais e os sogros de Jonas.

- Mas você nunca teve uma secretária, filho! – Disse a mãe de Jonas.

- Bom, eu e Rose não estamos com muito tempo para cuidar da casa. Por isso contratamo-la.

- Apresente ela a nós, filho. – Disse a mãe de Jonas.

- Sim, sim. Vou chama-la.

- Este piso estar para ceder! – Disse a sogra de Jonas.

- Sim, está oscilando muito. – Acrescentou sua irmã.

- Mudando de assunto, - Disse o seu sogro – vocês sabiam que o ganhador da loteria de hoje é de nossa pequena cidade?

- Nossa! Não sabíamos. – Disse alguns.

- Hum, será que foi a Rose que ganhou e resolveu fugir do país? – Disse a cunhada de Jonas.
Todos sorriram, beberam e dançavam em cima de um cadáver sumariamente degolado.

- Aqui está a moça. – Disse Jonas apresentando a sua amante aos demais. – Ela se chama Ana.

Ruy, instintivamente, percebeu uma gotícula de sangue sobre a gola da camisa da moça.

- Prazer Ana. – Cumprimentou os convidados.

- Isto não é veste de doméstica. – Disse a cunhada de Jonas no ouvido de Ruy.

- Deverás. – Respondeu este.

Mais uma vez, por um incrível instinto que só os detetives possuem, Ruy percebeu um papel jogado bem próximo da poltrona em que estava sentado. Simulando atar seu cadarço, Ruy ajuntou aquele folheto. Quando vislumbrou do que se tratava, jogou-se consternado na costa da poltrona.

Ruy começou a ligar os fatos: Primeiro a demora para Jonas recepciona-los, segundo o seu, e de sua suposta empregada, mal estar e vômitos, terceiro a gota de sangue na roupa da mulher e na faca, encontrada jogado perto da lixeira, e quarto, e crucial condenação, o bilhete premiado da loteria. Sim, a sua noiva havia ironicamente acertado: Jonas matou a sua esposa para poder ficar com o premio de 50 milhões da loteria.

Agora era Ruy que pingava horrores.

Os dançantes dançavam insaciavelmente. De repente uma viga do piso se moveu. Apenas Ruy, Jonas e Ana perceberam. Ruy contemplou um dedo, com a unha pintada de vermelho. Estremeceu, assim como os criminosos. Jonas, disfarçadamente chutou aquele dedo de volta para debaixo da viga. Ruy se fazia de desentendido. Jonas pedia para os visitantes cessarem de dançar, porém em vão. O piso estava para desabar completamente. Desta vez vieram três dedos da defunta para fora. A criança, o sobrinho de Jonas havia novamente sumido. Os dançantes sorriam e jogavam bebidas no chão. De repente o pai de Jonas se escorregou e caiu  no chão, e justamente na hora o piso desabou e Ruy sacou sua arma com uma destreza impecável dando voz de prisão para os dois. Todos os presentes ficaram petrificados com a cena. Ruy, então, tirou as vigas e pôde se ver a morta sem a sua cabeça.

- Meu Deus! – Gritaram todos abismados com aquela cena.

- E a sua cabeça? – Perguntou Ruy – Onde você jogou?


De repente a criança chega até a sala, segurando a cabeça da mulher, sua tia, e a joga bem no meio da sala, fazendo escorrer sangue sobre os calçados dos convidados e dos criminosos. 


Por Patrik Santos

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Espíritos Martirizados



São poucas as coisas que me lembro durante o tempo em que eu vivi naquela casa, pois eu tinha apenas sete anos de idade.

Tudo o que vou contar aqui são fatos reais que aconteceram há quinze anos atrás. Os relatos foram de minha família, principalmente do meu pai que era um cético perante o sobrenatural.

Chegamos naquele prédio numa tarde bem linda. De princípio nós nos mudaríamos para o Ap 104, mas como o antigo morador, de nome Álvaro, pediu ao síndico para que se mudasse para o 104, alegando que no Ap 105 o sol da tarde invadira o seu quarto e deixava como um inferno, o síndico prontamente assentiu com o pedido do morador que morava há bastante tempo naquele apartamento e que nunca causava problema nenhum e nunca havia se tornado um inadimplente.

O apartamento era lindo e, no entanto, o sol não causava tanto calor assim como aquele homem dizia.

 Para a nossa sorte, naquele dia de mudança fomos convidados pelos os moradores do segundo andar para uma festinha de aniversário. Meu pai não queria ir, mas de tanto eu e minha irmã, de oito anos, insistirmos, ele acabou cedendo.

Na festa, havia um garotinho fitando meu pai com uns olhos vermelhos de fúria. De repente ele começou a chamar meu pai para segui-lo. Parecia estar bastante preocupado com alguma coisa. Meu pai o seguiu. Saindo da festa, meu pai seguiu aquele menino que o chamava através de acenos desarticulados. O menino corria feito um louco.
Para a surpresa do meu pai, aquele menino entrou em nosso apartamento. “Impossível!” Disse meu pai. “Eu tranquei a porta.”
Entrando na casa, meu pai não achou o menino. Ele havia sumido. Procurou-o por todos os lados e não o encontrou.
De repente ouviu vozes de crianças vindas de seu quarto. Abriu a porta e percebeu que as vozes vinham do seu guarda roupa. Na verdade detrás dele. Estava a tremer de medo. Arredou o guarda roupa sorrateiramente e, com isso, as vozes pararam de falar.
“Devem ser os vizinhos”, disse. “Mas e o garoto?” Perguntou-se. “Onde ele está!”
Novamente as vozes. E agora o alarido ocupava cada compartimento da casa. Meu pai ficou branco como um algodão. Arredou novamente o guarda roupa e uma voz feminina lhe disse o seguinte: “AJUDE-NOS”.

Meu pai caiu para trás.

Não contou nada para a minha mãe no dia seguinte. Achou que aquilo não passava de um sonho; demasiado lúcido por sinal.

Certo dia, minha mãe estava só em casa. Eu e minha irmã estávamos no colégio. Meu pai no trabalho. Sentindo-se só, minha mãe ligou a Tv para relaxar um pouco, quando ouviu vozes que vinham da cozinha. Pareciam pessoas conversando. Ficou paralisada. De repente acordou da vertigem.  Entretanto, as vozes continuavam a conversar. Eram vozes ininteligíveis. Tomou coragem e foi averiguar o que estava acontecendo em sua cozinha. Chegando lá, encontrou a cozinha totalmente escura e a mesa coberta por uma toalha preta com três velas vermelhas, sete dias sete noites, acessas. Desmaiou.

Quando o meu pai chegou mais tarde, ela o contou tudo, mas este, cético, não acreditou em nenhuma palavra dela.

Á noite, novamente minha mãe se espantou. Dessa vez ouviu barulho de lousas. Parecia que alguém estava lavando elas. Foi até a cozinha e quando chegou lá, viu uma mulher com trajes de empregada doméstica lavando a sua lousa. Minha mãe fechou os olhos e deu um berro. Quando abriu os olhos, a moça havia sumido. No dia seguinte ligou para a sua mãe que lhe consolou dizendo que essas coisas são normais, pois quando alguém se apega muito a vida, e não aceita estar morto, ela sempre volta para acabar com os seus afazeres.

Na casa do nosso vizinho todos os dias escutávamos barulhos de objetos sendo quebrados. Briga de casal, dizíamos. Mas acontece que os gritos eram bem perturbadores mesmo.

Um dia meu pai chegou muito estranho em casa. Estava pálido. Nem disse bom dia a minha mãe. Entrou no banheiro e não saiu mais. Minha mãe, percebendo que ele demorava a sair, abriu o banheiro e só viu um gato preto sair de lá. Não era ninguém. Meu suposto pai havia sumido.

Numa noite, meu pai tentou se levantar para ir ao banheiro, porém não conseguia. Estava paralisado. Apenas seus olhos se moviam. Enfim percebeu que estava deitado de peito para cima. Sempre que dormia daquele jeito ele tinha pesadelos assombrosos, pois seu avô dizia que um demônio gostava de sentar na barriga de quem dormia assim; portanto era ele o causador dos pesadelos.
Ele tentava se mexer, mas não conseguia. “Será que estou sonhando?”, dizia-se. De repente ele começou a afundar em seu colchão. Ia descendo igual a uma areia movediça. Quando ele fechou os olhos, tudo voltou ao normal. Mas ao tentar firmar seus pés no chão, não conseguiu. Olhou para o chão e enxergou uma espécie de neblina, e nela havia várias mãos tentando lhe puxar para baixo. Provavelmente para o submundo.
Acordou no dia seguinte sem saber que se de fato aquilo tinha acontecido.

Na noite seguinte, aconteceu outro caso temeroso com meu pai:

Meu pai estava dormindo de bruços, para evitar pesadelos. De repente sentiu a cama se abaixar um pouco. Parecia que um leve peso havia se posto na cama. Logo começou a ouvir um suspiro de criança. De princípio, meu pai achava que era eu vindo se deitar em sua cama. Mas não era.

Era uma noite tempestuosa.
Meu pai disse bem baixo:

- Volte para a cama, filho. São apenas relâmpagos. Logo, logo vai passar.

Ele não obteve resposta, e de repente a criança começou a chorar.

- Volte para a cama e tente dormir, meu filho! – Disse novamente.

Sem respostas.

Levantou-se e olhou para aquela criança, mas não viu seu rosto, pois a escuridão predominava o quarto. Viu que o menino chorava sentado bem na beira da sua cama.

- Que foi filho? Volte para a cama. Logo passam esses malditos raios. – Disse ele em um tom solene.

A criança, então, soltou um grito assustador bem na hora em que um trovão iluminou todo o seu quarto. Quando viu o rosto daquela criança, por intermédio do raio dado, percebeu que era a mesma criança que o seguiu naquele primeiro dia em que fizemos a nossa mudança. Novamente a escuridão predominou o quarto, mas logo veio outro raio, e quando este foi dado, à criança já não estava mais sentada em sua cama. Havia sumido.




Á umas três semanas após a nossa chegada naquela casa, o vizinho, que havia trocado o seu Ap com a gente, cometeu um suicídio em seu Ap. Ficamos chocados com aquilo. Lembro-me vagamente disto. A família do homem, composta por sua esposa e um casal de filhos, estava viajando há quase um mês; logo saberão que não era bem isso.

Imagine você acordar de madrugada com a sua casa tremendo! Isso aconteceu com a gente. Meus pais foram cambaleando para o meu quarto. “O quê está acontecendo meu Deus?”, berrava a minha mãe. De repente vieram sons de pratos, xícaras e outros objetos se quebrando ao chão. Meus pais foram para a sala, com eu e minha irmã, todos nós de mãos dadas. Sentimos mãos demasiadas frias nos apalpar. A casa tremia literalmente, assim como um terremoto. Gritos de dor, desespero e agonia também estavam mesclados neste episódio aterrorizador. Choramos três dias, eu e minha mana, sem parar. Meu pai resolveu se mudar daquela casa imediatamente, porém o síndico nos instigou mais cinco dias, pois alguns documentos, que estranhamente foram extraviados, e que eram de extrema relevância, eram precisos para a nossa mudança.

Um dia, o piso da sala começou a ceder. Meu pai começou a puxar uma viga de madeira que já estava um pouco inclinada. Tirou uma, duas, primeiramente por curiosidade. Tirou outra e percebeu que alguma coisa estava errada. Sentiu um odor repugnante mesclado com um perfume bastante forte e mais algumas bolinhas de naftalinas. Depois viu um livro grosso com folhas amareladas que constatando, percebeu que era a Bíblia sagrada. O que fazia debaixo de um piso removível? Talvez fosse uma forma de abençoar a casa. Fanáticos religiosos usam cada meio para se livrarem dos maus espíritos. Pegou a bíblia com desconfiança e começou a folhear. Uma pagina estava marcada com um marcador de livro. Era no livro de Thiago e estava sublinhados em ênfase o capitulo 1 e versículo 15.

Assim está escrito:

Então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.
Tiago 1:15

Leu o texto e disse um tímido “Amém”. Puxando a quarta viga de madeira, viu um tecido que enrolava um objeto volumoso. Tentou puxar, mas o objeto era bem pesado. Tirou a quinta viga de madeira para facilitar a remoção do estranho objeto. O odor era bastante desagradável. Meu pai chamou minha mãe para ajuda-lo na remoção daquele fedorento entulho. Ambos estavam curiosos e aflitos. Puxaram com bastante força. O cheiro enjoativo fez minha mãe vomitar inesperadamente. Piorou quando viu que a sua mão estava infestada de tapurus, aquele inseto que se encontra facilmente em coisas podres. Na mão do meu pai também se encontravam essas larvas asquerosas.

Quando a minha mãe foi lavar as suas mãos com o álcool, ouviu o berro do meu pai dizendo:

- LIGA PRA POLÍCIA IMEDIATAMENTE!

Assustada, minha mãe correu para a sala para ver o que estava acontecendo.

 Chegando na sala, viu meu pai consternado e de joelhos no chão. Aquele pacote com um odor insuportável eram os corpos da família do homem que cometeu o suicídio. Jazia ali os filhos e a esposa do covarde senhor Álvaro, antigo morador de nosso apartamento. Matou-os por saber que sua esposa o traía com o seu melhor amigo.

Novamente meu pai leu o trecho da bíblia:


Então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.
Tiago 1:15



Por Patrik Santos

terça-feira, 2 de julho de 2013

Minha Gerada Paixão



Seus olhos refletiam um desejo inaudito que eu jamais poderei explicar. Talvez tenha sido seu sangue fervescente que pelo faro eu achei, afinal sou um ser completamente esdrúxulo. E ela se tornaria assim como eu por mera, ou talvez, por insana predestinação. E foi aquele olhar frio, quase sem vida, assim como o meu, assim como sou, que me chamou atenção. Aproximei-me furtivamente dela, e ela nem se deu conta de que surgi quase que como um espectro em seu lado. Segurei sua mão e ela sentiu algo frio, úmido lhe apalpar. Tentou me repelir, mas quando viu meus olhos fixando-a macabramente, se fez submissa e se entregou ao seu bel prazer. Ela estava cheia da monotonia dos mesmos rostos de sempre. Ela queria algo novo. Inovador. E achou-me.

O som estava ensurdecedor naquela boate dos anjos diabólicos. A banda tocava algo que eu jamais havia ouvido antes. A guitarra, ligada ao pedal de apenas um som de efeito metálico, berrava feito uma mãe ao ver seu filho se entalar com uma espinha de peixe. O baixo irritava até mesmo um ser em sua plena inconsciência devido estar ebriamente revestido de comprimidos e seringadas para lhe causar viagens alucinógenas. A bateria foi o ápice de minha tolerância. Batia desarticuladamente e fez-me se afastar e me desorientar. Mas bem no fundo eu estava adorando aquilo. Foi ao me afastar que eu a observei-a. Após tocar-lhe, como a pouco disse incisivamente, nossos opostos, de súbito, se atraíram. Foi muito fácil tirar-lhe daquele pseudo inferno para lhe levar ao, sem soma de dúvida, verdadeiro inferno.

Levei-a á meu habitat, lugar de lúgubre e perversa visão. Ela sentiu-se em casa. Foi se acamando e eu apenas a observando. Foi quando ela proferiu aquela frase que reverberou meus olhos rubros: “Deixe-me roxa de tanto me comer”. Não suportei aquela afronta. Parti para cima daquele corpo em chamas e ao sentir aquele fervor, deletei-me de suor e prazer. Disse-me enquanto eu a experimentava: “Você tem uma cara de maníaco psicopata. Tipo aqueles que seduzem e matam.” Fixei meus olhos em seus seios e ela continuou dizendo: “Por que você não sorri? Vou acabar acreditando que és, de fato, um psicopata.” Meus olhos se direcionavam agora para seu pescoço. Em estase, disse-lhe francamente: “Não sorrio, pois quando sorrio meus dentes se retraem e caem.” Ela sorriu euforicamente e eu a possui como jamais havia possuído outra. Finquei, então, meus afiados dentes naquele pescoço lindo e suculento. Seu sangue escorria fluindo para seus fartos e arredondados seios apetitosos. Minha língua deslizava por ela para deliciar aquele líquido que venero e suplico. Cada gota é demasiada importante, pois apenas uma pode salvar um ser indiferente como eu.

Senti o seu corpo se contorcer, foi então que peguei uma vela e lhe pinguei aquela cera quente por todo o seu corpo. Aquele ritual macabro, asseguro-lhes, foi mais fantástico do que um orgasmo. Seu corpo ficou enrijecido e, de súbito, frio como o meu.

Acordei seminu e não a vi. Quando olhei para o alto, vi-a pendurada de cabeça para baixo completamente nua. Criei-la. Ela seria a minha esposa, a rainha do mal. Dormíamos juntos em um caixão. Fazíamos amor ali mesmo, naquele claustro.

Tivemos noites maravilhosas. Porém elas foram ficando escassas. Sua presença foi se tornando fugaz a cada noite. Esqueci-me de alimenta-la. Era isso. Ela saia todas as noites para se fartar. Se eu fosse um cara mais vidrado em notícias, eu teria percebido tudo. Começamos a trazer indivíduos que curtiam uma transa a três. Foi o nosso meio de sobrevivência. Um dia era um sexo feminino, outro dia um masculino. Certo dia matei um antes mesmo de devora-lo. Senti um desgraçado ciúme por ela. Enterrei minha espada em seu pescoço que por muito pouco quase acertara a minha rainha. Desde aquele episódio, ela tornou-se indiferente comigo. Acordei com muita intuição certo dia. Minha intuição não falhara, pois me surpreendi segurando uma estaca que estava para se adentrar em meu escuro coração. Era ela que tentara me enfiar aquele instrumento. Puxei-a violentamente e fizemos amor á noite toda.

Ela sentia uma fome muito fora do normal. Começou a atacar perversamente inúmeras pessoas, até mesmo as que eu muito estimava. Sua força era descomunal. Assim como a sua sensualidade. Tinha o dom de enfeitiçar qualquer um com seu corpo demasiado atraente. Seus olhos encantavam o espirito e seu corpo excitava até mesmo um impotente.

Muito me aprazia o seu sexo. Tinha o cheiro do mal.

O que eu não sabia, e que jamais poderia imaginar, era que aquela formosura tinha uma paixão incógnita. Ela jamais havia partilhado aquilo comigo. Pegou-me de surpresa quando eu a vi com ele em meu caixão fazendo sexo. Apesar de eu ser este ser monstrengo, tenho sentimentos. Meu coração é morto, mas minha alma, apesar de estar sentenciada, ainda vive e move-se em mim. Descobri, com o tempo, que aquele sujeito era o seu amor, seu esposo, quando esta ainda era viva. Voltando a traição, que eu flagrara, imediatamente enterrei uma estaca no peito daquele sujeito. Ele morreu ali mesmo, ao lado dela. Segurei a mão da minha rainha, e ela pôde ver nos meus olhos toda a segurança e magia de um verdadeiro amor. Depois daquele funesto dia, vivemos felizes para sempre. Literalmente.


Para  A.P

Por Patrik Santos

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O Sádico Deformado



Alguém a ajude, pelo o amor de Deus! – Gritou a genitora desesperadamente. O crepitar dos destroços e os berros de ajuda eram os sons mais audíveis daquele prédio em chamas. Antes de chegar o corpo de bombeiros, para resgatar a moça que estava entulhada nos destroços, a ajuda de um homem viera e a garota salvou-se por muito pouco.

A moça escapou ilesa do incêndio. Sofreu apenas um pequeno desmaio devido inalar muita fumaça. No segundo dia, após o incêndio, a moça já sorria contando aquela tragédia para as suas amigas. “Foi por muito pouco”, dizia ela. “Eu iria virar churrasco”.

Sophia era realmente linda. Seria um desperdício vê aquela beleza toda ser deformada por um incêndio.

Aconteceu que ao completar três meses do incidente, Sophia começou a ser perseguida por um estranho homem horrendo. Ele sempre esperava a garota sair da faculdade. Seguia ela para todos os lugares que a moça ia. Para um cinema. Para uma balada. Às vezes ficava parado em frente a sua casa. Sophia, no entanto, não o percebia.

Certo dia, o homem parou com seu carro em frente ao colégio de Sophia e perguntou: “Vai uma carona aí, gata?” “Se enxerga, coisa feia”, respondeu ela. O homem balançou a cabeça verticalmente e saiu com seu carro. Mais na frente viu Sophia subir no carro de um playboy, suposto namorado dela. O homem os seguiu com um semblante de ódio e vingança. Parecia estar ludibriado e ao mesmo tempo obcecado por Sophia. Ao ver o carro parar em frente á casa de Sophia, cresceu nele uma vontade insana de passar com o carro em cima dos dois. A vontade aumentou quando ele viu o rapaz beijar Sophia. Apertou as mãos bem firmes no volante, mas ao acelerar o carro, o homem não teve coragem. O coração desacelerou por alguma razão. Não queria machuca-la, pois guardava um sentimento incógnito por ela. Freou e esperou um pouco. Quando os dois se despediram, o homem foi seguindo agora o playboy, namorado de Sophia. Já era noite quando o estranho homem freou bruscamente com o seu carro em frente ao carro do playboy. Desceu do carro com um extintor na mão, e sem falar nada, deu uma pancada no capô do carro do rapaz. Este saiu do carro e foi tirar satisfação com o estranho homem. Quando o playboy lhe foi proferir um insulto, o homem lhe deu com o extintor na cabeça deste que caiu desmaiado no chão. O horrendo homem, não satisfeito, pôs o extintor na boca do desfalecido rapaz e pressionou-lhe fazendo-o engolir toda aquela sustância que se encontra no extintor. O playboy foi encontrado no dia seguinte, bastante inchado prestes a explodir.

Sophia chorou por dois dias, debruçada em sua janela. No terceiro dia, Sophia viu um homem com um capuz que lhe cobria todo o rosto, lhe observando. Sophia empalideceu-se. Ele estava escorado em um poste, e a chuva não lhe incomodava nenhum pouco, pois a sua fixação para a janela da garota era perversa e doentia. Sophia abaixou sua cortina para a vista ficar furtiva ao sujeito. Respirou bem fundo, mas aquilo só fez aumentar sua angustia. Ao olhar para a janela novamente, Sophia vislumbrou uma frase escrita a spray em um muro: Você é minha, sua cadela!

Sophia gritou por seus pais e estes rapidamente ligaram para á policia. Sophia, a partir daquele dia, só era vista acompanhada por um gigante guarda costa. Aonde fosse, o homem de quase dois metros de altura estava com ela. O intimidante homem, de cabelos raspados e cicatrizes na têmpora, era um sujeito de poucas palavras, porém muito eficaz em seu serviço de guarda costa.

Em uma festa de Halloween, realizado em uma boate, Sophia bebeu tanto que perdeu toda a sobriedade que outrora tivera. Desvencilhou-se de seu guarda costa para poder curtir a festa sem estar sendo vigiada e observada por este. Sentada em uma adega, onde se serve bebidas, um mascarado de feição de palhaço sentou-se em seu lado e começou a lhe galantear.

- Sozinha, linda? – Perguntou ele.

- Sim, ic. – Respondeu ela alegando um estado ébrio.

- A sua fantasia é de Barbie? – Perguntou ele, pois Sophia estava sem máscaras.

- Ha, ha, ha! Engraçadinho.

- Escuta, você não quer dançar? – Perguntou o palhaço.

- Pode ser. Você dança bem?

- Verás.

- Ah, tem um probleminha. Aliás, um problemão. Tá vendo aquele grandão de quase dois metros de altura ali? Pois então, ele é meu guarda costa. Peça permissão a ele.

- Ele parece estar procurando alguém. – Disse o mascarado.

- Sim. Sou eu.

- Vamos aproveitar o seu vacilo e dançar um pouco.

Sophia topou e os dois foram para o meio do salão dançar. O guarda costa procurava a garota desesperadamente. Perder a garota era perder a garantia de trabalho. Sua elevada estatura o ajudou muito a achar a linda Sophia que dançava freneticamente no salão. O palhaço a tinha do jeito que ele queria: agarrado a moça e beijando-a loucamente. No salão, lugar de vários jogos de luzes, o guarda costa avistou vários jovens se drogando e se esfregando quase seminus; viu Sophia em êxtase profundo devido a droga ingerida dançando com o estranho mascarado. O guarda costa se aproximou, e com uma diabólica violência socou o palhaço que voou a metros do salão. Segurou a mão de Sophia, que se desvencilhava dele, e a tirou da pista de dança. Quando os dançantes olharam para o palhaço, que havia sido estirado no chão com uma violência inaudita, este já não se encontrava lá. Um leve tumulto tomou conta da danceteria, e quando todos pregavam a paz, um voo de adaga perfurou a artéria do pescoço do jovem guarda costa. O homem caiu inerte no chão. Sophia nem viu o que aconteceu, pois assim que a adaga voou, o tumulto foi instantâneo. Sentiu sua mão ser apalpada por um homem que a tirou rapidamente daquele transe infernal.

Sophia sentia-se apagada. Não estava lúcida de absolutamente nada. Poderiam lhe tocar de todas as formas que esta não sentiria nenhum toque. O estranho palhaço levou Sophia para a casa dele, um lugar tomado a mato e cantos de grilos e sapos. A única luz que se via por ali era o piscar do vagalume. O palhaço levou Sophia para uma espécie de cárcere. Abusou sexualmente de todas as formas da garota, e depois a levou para a cidade e lhe jogou debaixo de uma ponte suja e escura. Sophia acordou quatro horas da manhã sem saber absolutamente nada do que havia ocorrido. Sentia-se possuída. E deveras foi. Pegou um taxí e foi muito confusa para a sua casa.

Ficou sabendo da morte de seu guarda costa, e o que a investigação policial constatou, foi que o homem morreu por um leve, porém repugnante desentendimento. O principal suspeito, claro, era o homem que estava dançando com Sophia. A policia a interrogou, porém Sophia não detalhou, pois não o conhecia e nem sequer lhe viu sem as máscaras. Mais tarde, uma imagem estava sendo acessada por milhares de gente na internet; era uma foto de Sophia sentada com seu órgão no órgão genital de um estranho homem mascarado, o palhaço. Aquela foto repercutiu o país inteiro e Sophia, não saiu de sua casa por exatamente uma semana. Aquilo tudo era um pesadelo que estava vivendo.

Um mês depois do acontecimento da foto, Sophia sentia-se esquecida por aquele fato que lhe assombrou. Já eram poucas as pessoas que comentavam sobre aquilo em sua faculdade. Sentia-se melhor.
Saindo de sua faculdade, sozinha, pois todas as garotas sentiam vergonha de Sophia, um homem horrendo, estava parado em cima de um viaduto observando-a. Sophia acelerou seus passos e sumiu da vista do estranho. Sophia passou a ver aquele homem constantemente em seu cotidiano. Sophia apelou para seus pais, mas estes diziam que a filha estava passando dos limites. Conjeturavam que Sophia estava usando drogas, e que o assassino de seu guarda costa era um namorado seu. Planejaram matar o homem, pois Sophia já não o suportava mais. Porém aquilo tudo não passava de uma conjectura impensada de seus pais.

- Sophia está enlouquecendo. Este homem não existe! – Dizia seu pai á mãe de Sophia.

- Acredito na minha filha. Você precisa ajuda-la, Jorge! – Dizia a mãe.

Durante a discussão dos pais, Sophia, que estava deitada em sua cama com um fone de ouvindo escutando uma canção, foi violentamente amordaçada e amarrada em sua cama. Sim, era o sádico deformado.

- Conheces-me? – Perguntou ele. – Se sim, meneie a cabeça positivamente. Se não, negativamente.

Sophia meneou negativamente.

- Eu fui teu desprezo antes de ser assim. Agora sou uma aberração para esses teus lindos olhos verdes. O que difere os dois lados? Para alguns acho que muito, porém para mim nada. Ser desprezado por você é o mesmo que ser uma aberração. Para mim tanto faz.

Sophia estava paralisada. Não conseguia se mexer. Suas pupilas dilatavam-se de pasmo. Seus olhos jorravam lágrimas.

- Sempre te admirei, sua cadela. Eu sou o homem que salvou a tua vida. O homem que te tirou dos destroços daquele maldito incêndio. O homem que enfrentou a morte para te ajudar. O homem que se deformou por te amar.


O deformado homem apontou a arma em sua boca e lhe desferiu um único tiro fazendo jorrar sangue por todo o leito de Sophia.


Por Patrik Santos

domingo, 16 de junho de 2013

A Desova


Imagine você, em sua casa, aproximadamente uma e meia da manhã, um temporal infernal cai e a chuva castiga a sua janela fazendo um barulho até confortador. Você está prestes a pegar no sono e de repente... alguém dá uma porrada violenta em sua porta. Você se espanta atordoado e diz: QUE PORRA É ESSA!

Bom minha gente. Foi exatamente o que aconteceu comigo. Rapidamente desci as escadas da minha casa de madeira para averiguar que porra era aquela. Ao olhar da minha janela toda quebrada, não consegui ver ninguém, pois a escuridão predominava. Fui lentamente até a porta e abri-la bem devagarinho. A chuva estava muito violenta e um frio desgraçado assoprou bem no meu rosto. Senti minha boca entortar. Pensei até que eu iria sofrer um derrame. Vi então, na minha porta, um pedaço de perna manca bem grossa. Foi com ela que o filho da mãe havia batido em minha porta.

Puto pra caralho, fui até lá fora, no meio da chuva mesmo, e gritei:  FAZ ISSO DENOVO SEU FILHO DA PUTA! SE TÚ FOR MACHO DE DOIS COLHOES, FAZ!

Voltei pra minha cama muito puto e voltei a dormir.

Ao olhar para o pirata, meu cachorro, vi ele se contorcer todo. Parecia que estava sofrendo uma convulsão. Uma espuma branca, bem pastosa, saia de sua boca. Fiquei muito preocupado e joguei uma água gelada nele. Ele voltou ao normal e começou a latir tão forte como eu nunca havia visto antes. Um latido grosso, muito parecido quando ele latia para um estranho. De repente ele olhou para o teto de minha casa e deu um sussurro de medo. Agora ele se tremia todo. Parecia estar com medo de alguma coisa. Olhei para o teto e não vi absolutamente nada.  “Passa daí, seu passa fome”, disse eu, e voltei a dormir tranquilamente.

Eu sempre fui um cara eremita. Minha misantropia me afastava de qualquer cidadela. Eu adorava morar no meio do mato. Eu nunca tive vizinhos. Para mim essas porras são tudo uns bandos de filhos da puta. Se preocupam tanto com a sua vida e não olham nunca para os seus rabos melados de merda. Pra você ter uma ideia, a casa mais próxima da minha ficava a quase dez quilômetros.

Depois daquela noite, as coisas no meu barraco mudaram muito. Meu sossego foi se afastando de mim, bem como a minha mulher que trocou a vida do campo para ir morar com um veado granfino de merda.
Na noite seguinte, exatamente uma da madrugada, ouvi uns arranhões vindos de minha porta. “O que será isso?”, perguntei-me. Averiguando minha sobriedade e lucidez, cheguei à conclusão lógica que era o pirata que estava fora de casa e estava querendo se adentrar. Calcei minha sandália, me embrulhei com uma toalha e desci as escadas para coloca-lo para dentro.

Ao abrir a porta, o pirata entrou e se sacudiu todo fazendo me espirrar lama e mato. “Seu sacana”, disse. “Vai pra dentro”. Os olhos do pirata estavam fumegando e um rosnado temeroso saiu de sua boca. “Ai, caralho! Tu tá doido, porra!”, disse furiosamente. “Passa pra dentro e para de dar uma de doido”, disse eu. O cão rosnou mais alto ainda. Olhei pra ele e disse: “Não vale a pena. Deixa pra lá”. Subi as escadas e voltei para a minha cama.

Quase ao pegar no sono, novamente ouvi arranhões vindos de minha porta. Como isso? Eu tinha acabado de abrir a porta para o cachorro! Intrigado e puto, desci para ver o que estava se passando lá embaixo. Chamei pelo o pirata e ele não me atendeu. Balancei seu recipiente de comida e ele não veio. “É, ele realmente não está aqui. Mas isso é impossível!”. Chegando perto da porta, abria-a bem devagarinho. O pirata arranhava a porta desesperadamente para entrar. Abri a porta com tudo e ele entrou abanando o rabo e soluçando baixinho. Parecia estar com medo de algo. Na verdade nós dois estávamos com medo. E aquele cachorro a quem eu abri a porta por primeiro? Quem era? Era o pirata, eu tinha certeza. O quê está acontecendo comigo? Era impossível ele sair. Não teria como.

Quando eu iria subir para deitar-me em minha cama, vi um homem parado no meio da escada com os olhos fumegando de ira. Meu coração palpitou tão forte que parecia que iria sofrer uma pane. Olhei para aquele homem com os olhos arregalados de medo. Pus as mãos em meus olhos e quando os tirei só vi o vulto do homem subindo a escada. “E agora meu Deus. O que é que eu faço?”. Fui lentamente a minha estante para pegar a minha escopeta e de repente ouvi algo se quebrando lá encima. Parecia som de vidro. Sim, parecia da minha janela. Fui subindo lentamente as escadas com o cu que não passava nem um alfinete. Chegando ao ocaso da escada, um silêncio predominou aquele local. Até os insetos pararam de cochichar. Estava tudo em silêncio. Completamente. E a escuridão não dava lugar a nenhuma emissão de luz. O homem parecia ter sumido. Sim. Pulou pela a janela. Ao olhar minha janela, certifiquei-me de que ela estava intacta. Impossível! Eu estava enlouquecendo. Não pode ser! Peguei minha candeia e rodei por todo o alto de minha casa. Nada! O estranho homem havia sumido.
Fui ao meu banheiro para lavar o rosto e ao tirar a toalha de meus olhos, vi dois homens; um a minha direita e outro a minha esquerda; todos sorrindo com seus dentes defeituosos e seus olhos vermelhos como a de um coelho albino. Meus pelos se arrepiaram todos. Meu coração, agora sim, havia sofrido uma pane. Quase que caio de tanto tremer, pois minhas pernas oscilavam incessantemente. Ao olhar para trás, para vê-los, vi apenas meu cachorro me olhando com a cara de fome.

Aquela noite eu não consegui dormir. Parecia que tinha alguém me vigiando á noite toda. Pela primeira vez eu orei pra Deus. Cochilei quase às cinco da manhã e acordei com o canto do meu galo velho rouco. Ainda estava escuro. Ao olhar de minha janela, vi dois homens com enxadas na mão. Sim, eles me viram. Apontaram para mim a enxada que seguravam e em seguida jogaram uma pedra em minha direção. Agora sim havia quebrado a minha vidraça. “Tô fodido mesmo”, disse. Tirei meu rosto para não espirrar nenhum estilhaço de vidro em meus olhos. Ao olhar da janela, eles haviam sumido. “Ai meu caralho”, disse eu tremendo de medo.

Mas alguma coisa me dizia que não eram os mesmos homens que eu vi em minha casa.
Ao clarear o dia, peguei a minha caminhonete e fui até a cidadezinha para saber se tinha alguma novidade. Sentei em uma lanchonete fuleira e vi vários velhos conversando sobre um assunto que me chamou muita atenção: era de um assassinato de dois homens que haviam participado da morte de um padre defensor de causas humanas. “Dois homens?”, perguntei-me. “Por acaso já acharam os corpos desses dois vagabundos?”, disse eu para aqueles velhos. “Ainda não seu intrometido”, disse-me um deles. “Valeu”, respondi.


Ao chegar em meu barraco, surpreendentemente não vi o pirata vir me recepcionar. Era a primeira vez que vi isso acontecer. Chamei-o por toda a parte da casa, porém ele não me atendia. Já estava bastante preocupado, afinal aquele passa fome era o meu único companheiro. Finalmente ele me apareceu com um pedaço imenso de osso na boca. “De onde tu tirou  isso, rapá?”, perguntei-lhe. Ele me abanou o rabo e lentamente foi me levando até onde havia encontrado aquele osso. Era no meu milharal. Chegando até o local, conclui que aquela ossada era dos dois homens mortos que me apareceram naquela inesquecível noite em que eu não dormi a noite toda. Foram enterrados bem no meu milharal. Que desova. 


Por Patrik Santos

terça-feira, 11 de junho de 2013

Sexo no Cemitério


Todo dia, após largar o seu serviço, Vicente rumava para um bar que se localizava perto de sua casa. Encontrava-se com os seus amigos e bebia até o diabo dizer chega.

Sentado em sua mesa, rodeada de amigos, Vicente enxergou uma linda mulher que bebia sozinha no balcão do bar. Não era a primeira vez que Vicente viu aquela moça ali, sozinha e visivelmente triste. Já tinha lhe visto outra vez, parecia ter sido na noite passada. Achou ela tesuda demais, porém não teve coragem de ir até lá e lhe galantear. 

Naquela noite, porém, Vicente tomou coragem, assim como várias doses de conhaque, e foi até a linda moça de triste aparência para arriscar uma paquera.

- Boa noite, moça. Permita-me sentar ao seu lado? – Disse educadamente Vicente.

- Fique a vontade. – Respondeu a moça.

- Sempre lhe vejo por aqui. Moras aqui perto? – Disse Vicente.

- Sim. Bem aqui próximo. Sou novata. Faz poucos dias que me mudei. – Concluiu ela.

- Muito prazer, meu nome é Vicente.

- Prazer.

-Como você se chama?

- Isso realmente importa? – Perguntou ela.

Vicente levantou duas vezes a sua sobrancelha e disse:

- Realmente não. Você não quer ir para outro lugar?  - Perguntou ele com o coração palpitando por sexo.

- Sim.  – Disse a moça.

Segurando a mão da moça, Vicente retirou-se do bar e saiu para a rua em rumo a um motel mais próximo.
A moça estava gelada. De fato que fazia um frio intenso, mas a sua temperatura era bastante fora do normal. Vicente nem deu a mínima para isto, pois julgava que a moça estava apenas nervosa.

Chegando próximo a um cemitério, a moça fez uma proposta inesperada a Vicente. Disse-lhe que tinha uma fantasia sexual: transar dentro de um cemitério. Vicente não gostou da proposta, mas quando viu que a moça lhe fazia menção de desistir de tudo, ele aceitou prontamente.

A moça deitou-se em um túmulo e começou a se despir. Vicente vislumbrou a linda moça e ficou encantado. 

De fato a moça era muito atraente. Lentamente também foi se despindo. A moça já o chamava freneticamente em cima de um túmulo. “Vem me possuir, garanhão”, dizia ela. Nunca ele poderia imaginar que a moça era tão louca daquele jeito. Gritava chamando-o para que este a comesse logo. Vicente deitou-se em cima dela e é escusado dizer os detalhes daquela transa.

O clima estava bom, até que a moça pediu algo que ele jamais imaginaria que ela pedisse. Era algo doentio. A mulher pediu para que ele destampasse o túmulo com o qual eles estavam deitados, e de lá tirasse o cadáver para que eles mantivessem relação com ele.

- Você está louca? –  Redarguiu ele.

- O defunto é fresco. – Disse ela.

A eloquência da moça, bem como a sua beleza cativante, convencera Vicente que fez tudo aquilo o que ela pedira.

De fato, o corpo ainda estava em bom estado. Parecia ter sido enterrado há quatro dias. Era de uma mulher.

Nunca Vicente imaginaria se vendo a cometer tal ato. A necrofilia era algo que o próprio repudiava.
Vicente, então, fez sexo com o defunto.

De repente uma luz foi posta em sua direção. Vicente olhou para aquele clarão e viu a mulher desaparecer. Ele estava realmente ébrio. A luz era da lanterna do coveiro que viera ver o que estava acontecendo no jazigo.

A cena que o coveiro viu não lhe deixou tão admirado. O que mais lhe deixou pasmo foi ver o homem praticar sexo oral com o cadáver.

- O Que você está fazendo aí, amigo? – Perguntou o coveiro.

- Nada. Apenas sexo. – Disse Vicente.

- Mas com um cadáver? – Disse o coveiro.

- Foi à moça que me instigou.  – Disse Vicente.

- Que moça, cara. Só vejo um defunto aí.

Vicente olhou para um lado, olhou para o outro e, meio atordoado, sem saber onde estava, viu a foto da mulher no jazigo em que ele estava deitado, e disse:

- É essa mulher aí da foto.

-  Mas essa mulher já morreu. – Disse o coveiro.

-Impossível! Transamos agora a pouco. Ela que me trouxe até aqui.

- Não invente, seu doente. Você transou com o seu defunto.


- Ai que merda! – Disse Vicente.


Por Patrik Santos

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A Garota da Internet


Eu andava muito deprimido doutor, pois a minha namorada havia me traído com um cara que se dizia muito meu amigo. Flagrei-os justamente no ato do sexo selvagem que os dois praticavam. Eu nem sabia que ela curtia aquilo. É como dizem: "o corno é sempre o ultimo a saber."

Meus planos de felicidade com ela se dissiparam.

Passei dias sem me alimentar direito. A insônia foi a minha companheira por várias noites. Corpos estranhos, que eu jamais poderei explicar, se apossuíram de mim.

Sofri uma mutação devastadora.

Para me desvencilhar daquele espetáculo nada apreciador, eu comecei a usar a internet para amenizar o meu sofrimento. A recomendação viera de um amigo meu. A minha insônia, no entanto, só fez aumentar, pois eu ficava horas em frente ao computador conversando imoralidades e me masturbando só pelo o fútil fato de sentir prazer. Dias depois, eu excluía aquela pessoa e começava uma nova amizade. E assim sucessivamente. De fato aquilo estava me destruindo.

E foi quando eu a conheci, meu amigo. Ah, Linda! Olhos redondos como a de um desenho japonês, um sorriso daquele que não expõe os dentes, um rostinho de menina, porém o corpo já era de uma linda mulher.

Era uma garota perfeita para preencher a lacuna que me faltava.

Inteligentíssima! Ela me decifrou apenas pelo o seu vasto conhecimento de astronomia. Eu fiquei apaixonado por ela. Até fizemos sexo virtual. Chorava em minha cama quando ela não ligava a noite. Morava tão longe mim. Mas por morar tão longe assim, não deveria ter sumido. Ela me enviou um lindo pingente, a estrela de Davi. Adorei!

Um dia resolvemos nos encontrar. Marcamos no aeroporto, pois eu iria lhe apanhar. Ela não apareceu. Liguei para ela, mas deu número inexistente. Meu coração apertou meu peito a ponto de sufocar-me.
Fui para a casa. Entrei no meu computador para procurar o seu email e não encontrei. A sua rede social havia sumido. Pesquisei a nossa conversa gravada em meu computador e estranhamente não encontrei. Pus as mãos no meu pescoço para apalpar o meu pingente, e não senti. Estranho. Ela sumiu estranhamente de mim, amigo.

Todo aquele espetáculo, nada apreciador, voltou. Cheguei a pesar quarenta e cinco quilos. Perdi líquidos e mais líquidos por chorar incessantemente. Senti fortes dores no meu corpo. Minha cabeça flutuava. Parecia que ela não estava fincada em meu pescoço. Tentei todas as noites viajar para os braços dela através da viagem astral. Porém eu nunca a encontrava. Ela havia realmente sumido.

- O que você acha de tudo isso, doutor? – Perguntou deitado em um sofá da clínica o autor desta historia.

-  Você parece lúcido perante tudo o que diz. Mas você não mostra certeza em suas palavras. Você chega a hesitar sobre tudo isso que aconteceu com você.

O autor da historia parecia não entender nada no que o doutor lhe falava. Parecia que realmente a sua cabeça não estava fincada em seu pescoço.

- Você tem alguma prova que essa moça existiu? – Perguntou o doutor.

- Bom.. Nenhuma. As provas sumiram. – Respondeu o autor.

- Então prepare-se para o que eu vou lhe dizer, amigo. Relaxe e tente não se abater com o que será dito. Cheguei à conclusão de que esta moça não existe. Foi apenas uma criação do seu desespero de conhecer alguém. Ela é a sua criação, meu amigo. Ela não existe. Sinto muito! Casos como o seu são normais em minha clínica.

O autor desta historia colocou as mãos em sua cabeça e a sacudiu violentamente. Parecia não acreditar na mais pura verdade que o doutor lhe dizia.

“A solidão é uma forma de opressão. No meio de tantas pessoas supérfluas, acabei conhecendo uma pessoa perfeita. Essa pessoa, no entanto, não passava de uma criação da utopia do meu ingênuo desejo de apreciação e devoção.”

Quinze dias depois, o autor deste conto se internou na clínica com um avançado estado de loucura.


Por: Patrik Silva

O Terrível Taxidermista


Depoimento do subalterno do conde da taxidermia ( pseudônimo dado ao assassino)

23 de novembro de 1876

“Cheguei naquela mansão em uma segunda feira bem cedo. De fato, aquilo estava mais para um palácio e eu teria que cuidar de tudo aquilo sozinho, pois o conde não contrataria mais ninguém além de mim. Afirmou-me que me pagaria muito bem, bastaria eu fazer o meu serviço bem feito e não me meter nos negócios dele que tudo ficaria bem.

Ignoro o modo de sobrevivência do conde. Ele passava horas na sua sala que ficava no ultimo andar da casa. Era-me proibido entrar ali. Ele mesmo se dispunha a limpar o lugar.

Todas as tardes, prestes a escurecer, eu ouvia um som alto de musica vindo da sala do meu patrão. O que me intrigava era que sempre tocava a mesma música: a segunda sinfonia de Beethoven.

Eu estava ciente dos assassinatos, mas nunca poderia imaginar que era o meu patrão.

A cidade passava por um pânico nunca visto por lá. Os lobos estavam furiosos e famintos, e já se começava a dizer que um homem, idêntico a um lobo, rodeava a cidade toda a procura de  vítimas. Todos diziam ser um lobisomem. E algumas pessoas diziam ser o meu patrão.

Ele adorava se fantasiar de filantropo. Realizava os maiores bailes da cidade. Frequentava teatros e grandes óperas. Era sempre visto usando uma longa capa vermelha e uma cartola preta.

No dia seguinte ao baile, ele perguntava a mim se eu havia reparado no casaco de pele de fulano, ciclano e beltrano. Eu o olhava confuso e dizia não. Ele respondia tudo bem, e voltava para a sua sala secreta. Muito me intrigava aquelas perguntas do meu patrão. Parece que aquelas pessoas, com roupas luxuosas,  incomodavam o meu patrão. Ele os olhava com uma ira que jamais poderei decifrar a vocês.

Várias pessoas desaparecidas. Começava a crescer o número.

  Os caçadores, que foram contratados para matar os lobos, sumiram, assim como as duas filhas do barão Visconde que adoravam um casaco de pele e um empalhador de animais, pessoa com a qual o meu patrão tinha muita afinidade.

Num funesto dia, em que ele abriu a sua casa para realizar um grande baile, ele sentou-se no banco do piano e começou a tocar uma música de Beethoven, a sonata ao luar. Ele tocava piano magistralmente. De repente, quando a música exigia umas batidas mais fortes em suas teclas, meu patrão começou a se contorcer todo. Seu pescoço se entortou e suas veias pareciam que iam se dilatar. Seus olhos ficaram vermelhos como a de um lobo. As pessoas diziam: vejam! Ele está se transformando. Todos se afastaram com muito medo. Quando a música acabou, meu patrão estalou seus dedos e disse: “Muito obrigado”. Os presentes sorriram e bateram muita palma a ele.

Um dia, durante um grande baile a máscaras que ele realizaria em sua mansão, ele me deu oito horas de folga para passear um pouco em qualquer lugar que eu quisesse. Eu fui visitar meus filhos, pois fazia meses que eu não os via.

Quando voltei, havia cinco objetos pendurados na parede sobre um pano preto. Os convidados foram chegando. Várias pessoas se aglomeraram assustadas no salão. O conde, o anfitrião da festa havia sumido. 

A segunda sinfonia de Beethoven tocava como música de fundo.

De repente os panos foram descobertos e uma voz, que ninguém sabia dizer de onde vinha, e que estava mais para um poema, disse o seguinte: Vejam essas vidas em jogo. Esses meros mortais. O mundo de vocês não poupa nem a paz. Vejo a beleza deles no corpo de alguém, de alguém sem escrúpulos que não ama ninguém. O nosso verde caindo. Nativos no chão. Minguando um lar e entrando em extinção.

Todos se olharam com muito medo e chocados com o que viram, pois as cabeças dos dois caçadores, as duas filhas do conde Visconde, que realmente adoravam um casaco de pele, e o empalhador de animais, foram todos cruelmente vítimas da taxidermia humana.


O conde havia realmente sumido”. 


Por Patrik Santos