segunda-feira, 24 de junho de 2013

O Sádico Deformado



Alguém a ajude, pelo o amor de Deus! – Gritou a genitora desesperadamente. O crepitar dos destroços e os berros de ajuda eram os sons mais audíveis daquele prédio em chamas. Antes de chegar o corpo de bombeiros, para resgatar a moça que estava entulhada nos destroços, a ajuda de um homem viera e a garota salvou-se por muito pouco.

A moça escapou ilesa do incêndio. Sofreu apenas um pequeno desmaio devido inalar muita fumaça. No segundo dia, após o incêndio, a moça já sorria contando aquela tragédia para as suas amigas. “Foi por muito pouco”, dizia ela. “Eu iria virar churrasco”.

Sophia era realmente linda. Seria um desperdício vê aquela beleza toda ser deformada por um incêndio.

Aconteceu que ao completar três meses do incidente, Sophia começou a ser perseguida por um estranho homem horrendo. Ele sempre esperava a garota sair da faculdade. Seguia ela para todos os lugares que a moça ia. Para um cinema. Para uma balada. Às vezes ficava parado em frente a sua casa. Sophia, no entanto, não o percebia.

Certo dia, o homem parou com seu carro em frente ao colégio de Sophia e perguntou: “Vai uma carona aí, gata?” “Se enxerga, coisa feia”, respondeu ela. O homem balançou a cabeça verticalmente e saiu com seu carro. Mais na frente viu Sophia subir no carro de um playboy, suposto namorado dela. O homem os seguiu com um semblante de ódio e vingança. Parecia estar ludibriado e ao mesmo tempo obcecado por Sophia. Ao ver o carro parar em frente á casa de Sophia, cresceu nele uma vontade insana de passar com o carro em cima dos dois. A vontade aumentou quando ele viu o rapaz beijar Sophia. Apertou as mãos bem firmes no volante, mas ao acelerar o carro, o homem não teve coragem. O coração desacelerou por alguma razão. Não queria machuca-la, pois guardava um sentimento incógnito por ela. Freou e esperou um pouco. Quando os dois se despediram, o homem foi seguindo agora o playboy, namorado de Sophia. Já era noite quando o estranho homem freou bruscamente com o seu carro em frente ao carro do playboy. Desceu do carro com um extintor na mão, e sem falar nada, deu uma pancada no capô do carro do rapaz. Este saiu do carro e foi tirar satisfação com o estranho homem. Quando o playboy lhe foi proferir um insulto, o homem lhe deu com o extintor na cabeça deste que caiu desmaiado no chão. O horrendo homem, não satisfeito, pôs o extintor na boca do desfalecido rapaz e pressionou-lhe fazendo-o engolir toda aquela sustância que se encontra no extintor. O playboy foi encontrado no dia seguinte, bastante inchado prestes a explodir.

Sophia chorou por dois dias, debruçada em sua janela. No terceiro dia, Sophia viu um homem com um capuz que lhe cobria todo o rosto, lhe observando. Sophia empalideceu-se. Ele estava escorado em um poste, e a chuva não lhe incomodava nenhum pouco, pois a sua fixação para a janela da garota era perversa e doentia. Sophia abaixou sua cortina para a vista ficar furtiva ao sujeito. Respirou bem fundo, mas aquilo só fez aumentar sua angustia. Ao olhar para a janela novamente, Sophia vislumbrou uma frase escrita a spray em um muro: Você é minha, sua cadela!

Sophia gritou por seus pais e estes rapidamente ligaram para á policia. Sophia, a partir daquele dia, só era vista acompanhada por um gigante guarda costa. Aonde fosse, o homem de quase dois metros de altura estava com ela. O intimidante homem, de cabelos raspados e cicatrizes na têmpora, era um sujeito de poucas palavras, porém muito eficaz em seu serviço de guarda costa.

Em uma festa de Halloween, realizado em uma boate, Sophia bebeu tanto que perdeu toda a sobriedade que outrora tivera. Desvencilhou-se de seu guarda costa para poder curtir a festa sem estar sendo vigiada e observada por este. Sentada em uma adega, onde se serve bebidas, um mascarado de feição de palhaço sentou-se em seu lado e começou a lhe galantear.

- Sozinha, linda? – Perguntou ele.

- Sim, ic. – Respondeu ela alegando um estado ébrio.

- A sua fantasia é de Barbie? – Perguntou ele, pois Sophia estava sem máscaras.

- Ha, ha, ha! Engraçadinho.

- Escuta, você não quer dançar? – Perguntou o palhaço.

- Pode ser. Você dança bem?

- Verás.

- Ah, tem um probleminha. Aliás, um problemão. Tá vendo aquele grandão de quase dois metros de altura ali? Pois então, ele é meu guarda costa. Peça permissão a ele.

- Ele parece estar procurando alguém. – Disse o mascarado.

- Sim. Sou eu.

- Vamos aproveitar o seu vacilo e dançar um pouco.

Sophia topou e os dois foram para o meio do salão dançar. O guarda costa procurava a garota desesperadamente. Perder a garota era perder a garantia de trabalho. Sua elevada estatura o ajudou muito a achar a linda Sophia que dançava freneticamente no salão. O palhaço a tinha do jeito que ele queria: agarrado a moça e beijando-a loucamente. No salão, lugar de vários jogos de luzes, o guarda costa avistou vários jovens se drogando e se esfregando quase seminus; viu Sophia em êxtase profundo devido a droga ingerida dançando com o estranho mascarado. O guarda costa se aproximou, e com uma diabólica violência socou o palhaço que voou a metros do salão. Segurou a mão de Sophia, que se desvencilhava dele, e a tirou da pista de dança. Quando os dançantes olharam para o palhaço, que havia sido estirado no chão com uma violência inaudita, este já não se encontrava lá. Um leve tumulto tomou conta da danceteria, e quando todos pregavam a paz, um voo de adaga perfurou a artéria do pescoço do jovem guarda costa. O homem caiu inerte no chão. Sophia nem viu o que aconteceu, pois assim que a adaga voou, o tumulto foi instantâneo. Sentiu sua mão ser apalpada por um homem que a tirou rapidamente daquele transe infernal.

Sophia sentia-se apagada. Não estava lúcida de absolutamente nada. Poderiam lhe tocar de todas as formas que esta não sentiria nenhum toque. O estranho palhaço levou Sophia para a casa dele, um lugar tomado a mato e cantos de grilos e sapos. A única luz que se via por ali era o piscar do vagalume. O palhaço levou Sophia para uma espécie de cárcere. Abusou sexualmente de todas as formas da garota, e depois a levou para a cidade e lhe jogou debaixo de uma ponte suja e escura. Sophia acordou quatro horas da manhã sem saber absolutamente nada do que havia ocorrido. Sentia-se possuída. E deveras foi. Pegou um taxí e foi muito confusa para a sua casa.

Ficou sabendo da morte de seu guarda costa, e o que a investigação policial constatou, foi que o homem morreu por um leve, porém repugnante desentendimento. O principal suspeito, claro, era o homem que estava dançando com Sophia. A policia a interrogou, porém Sophia não detalhou, pois não o conhecia e nem sequer lhe viu sem as máscaras. Mais tarde, uma imagem estava sendo acessada por milhares de gente na internet; era uma foto de Sophia sentada com seu órgão no órgão genital de um estranho homem mascarado, o palhaço. Aquela foto repercutiu o país inteiro e Sophia, não saiu de sua casa por exatamente uma semana. Aquilo tudo era um pesadelo que estava vivendo.

Um mês depois do acontecimento da foto, Sophia sentia-se esquecida por aquele fato que lhe assombrou. Já eram poucas as pessoas que comentavam sobre aquilo em sua faculdade. Sentia-se melhor.
Saindo de sua faculdade, sozinha, pois todas as garotas sentiam vergonha de Sophia, um homem horrendo, estava parado em cima de um viaduto observando-a. Sophia acelerou seus passos e sumiu da vista do estranho. Sophia passou a ver aquele homem constantemente em seu cotidiano. Sophia apelou para seus pais, mas estes diziam que a filha estava passando dos limites. Conjeturavam que Sophia estava usando drogas, e que o assassino de seu guarda costa era um namorado seu. Planejaram matar o homem, pois Sophia já não o suportava mais. Porém aquilo tudo não passava de uma conjectura impensada de seus pais.

- Sophia está enlouquecendo. Este homem não existe! – Dizia seu pai á mãe de Sophia.

- Acredito na minha filha. Você precisa ajuda-la, Jorge! – Dizia a mãe.

Durante a discussão dos pais, Sophia, que estava deitada em sua cama com um fone de ouvindo escutando uma canção, foi violentamente amordaçada e amarrada em sua cama. Sim, era o sádico deformado.

- Conheces-me? – Perguntou ele. – Se sim, meneie a cabeça positivamente. Se não, negativamente.

Sophia meneou negativamente.

- Eu fui teu desprezo antes de ser assim. Agora sou uma aberração para esses teus lindos olhos verdes. O que difere os dois lados? Para alguns acho que muito, porém para mim nada. Ser desprezado por você é o mesmo que ser uma aberração. Para mim tanto faz.

Sophia estava paralisada. Não conseguia se mexer. Suas pupilas dilatavam-se de pasmo. Seus olhos jorravam lágrimas.

- Sempre te admirei, sua cadela. Eu sou o homem que salvou a tua vida. O homem que te tirou dos destroços daquele maldito incêndio. O homem que enfrentou a morte para te ajudar. O homem que se deformou por te amar.


O deformado homem apontou a arma em sua boca e lhe desferiu um único tiro fazendo jorrar sangue por todo o leito de Sophia.


Por Patrik Santos

domingo, 16 de junho de 2013

A Desova


Imagine você, em sua casa, aproximadamente uma e meia da manhã, um temporal infernal cai e a chuva castiga a sua janela fazendo um barulho até confortador. Você está prestes a pegar no sono e de repente... alguém dá uma porrada violenta em sua porta. Você se espanta atordoado e diz: QUE PORRA É ESSA!

Bom minha gente. Foi exatamente o que aconteceu comigo. Rapidamente desci as escadas da minha casa de madeira para averiguar que porra era aquela. Ao olhar da minha janela toda quebrada, não consegui ver ninguém, pois a escuridão predominava. Fui lentamente até a porta e abri-la bem devagarinho. A chuva estava muito violenta e um frio desgraçado assoprou bem no meu rosto. Senti minha boca entortar. Pensei até que eu iria sofrer um derrame. Vi então, na minha porta, um pedaço de perna manca bem grossa. Foi com ela que o filho da mãe havia batido em minha porta.

Puto pra caralho, fui até lá fora, no meio da chuva mesmo, e gritei:  FAZ ISSO DENOVO SEU FILHO DA PUTA! SE TÚ FOR MACHO DE DOIS COLHOES, FAZ!

Voltei pra minha cama muito puto e voltei a dormir.

Ao olhar para o pirata, meu cachorro, vi ele se contorcer todo. Parecia que estava sofrendo uma convulsão. Uma espuma branca, bem pastosa, saia de sua boca. Fiquei muito preocupado e joguei uma água gelada nele. Ele voltou ao normal e começou a latir tão forte como eu nunca havia visto antes. Um latido grosso, muito parecido quando ele latia para um estranho. De repente ele olhou para o teto de minha casa e deu um sussurro de medo. Agora ele se tremia todo. Parecia estar com medo de alguma coisa. Olhei para o teto e não vi absolutamente nada.  “Passa daí, seu passa fome”, disse eu, e voltei a dormir tranquilamente.

Eu sempre fui um cara eremita. Minha misantropia me afastava de qualquer cidadela. Eu adorava morar no meio do mato. Eu nunca tive vizinhos. Para mim essas porras são tudo uns bandos de filhos da puta. Se preocupam tanto com a sua vida e não olham nunca para os seus rabos melados de merda. Pra você ter uma ideia, a casa mais próxima da minha ficava a quase dez quilômetros.

Depois daquela noite, as coisas no meu barraco mudaram muito. Meu sossego foi se afastando de mim, bem como a minha mulher que trocou a vida do campo para ir morar com um veado granfino de merda.
Na noite seguinte, exatamente uma da madrugada, ouvi uns arranhões vindos de minha porta. “O que será isso?”, perguntei-me. Averiguando minha sobriedade e lucidez, cheguei à conclusão lógica que era o pirata que estava fora de casa e estava querendo se adentrar. Calcei minha sandália, me embrulhei com uma toalha e desci as escadas para coloca-lo para dentro.

Ao abrir a porta, o pirata entrou e se sacudiu todo fazendo me espirrar lama e mato. “Seu sacana”, disse. “Vai pra dentro”. Os olhos do pirata estavam fumegando e um rosnado temeroso saiu de sua boca. “Ai, caralho! Tu tá doido, porra!”, disse furiosamente. “Passa pra dentro e para de dar uma de doido”, disse eu. O cão rosnou mais alto ainda. Olhei pra ele e disse: “Não vale a pena. Deixa pra lá”. Subi as escadas e voltei para a minha cama.

Quase ao pegar no sono, novamente ouvi arranhões vindos de minha porta. Como isso? Eu tinha acabado de abrir a porta para o cachorro! Intrigado e puto, desci para ver o que estava se passando lá embaixo. Chamei pelo o pirata e ele não me atendeu. Balancei seu recipiente de comida e ele não veio. “É, ele realmente não está aqui. Mas isso é impossível!”. Chegando perto da porta, abria-a bem devagarinho. O pirata arranhava a porta desesperadamente para entrar. Abri a porta com tudo e ele entrou abanando o rabo e soluçando baixinho. Parecia estar com medo de algo. Na verdade nós dois estávamos com medo. E aquele cachorro a quem eu abri a porta por primeiro? Quem era? Era o pirata, eu tinha certeza. O quê está acontecendo comigo? Era impossível ele sair. Não teria como.

Quando eu iria subir para deitar-me em minha cama, vi um homem parado no meio da escada com os olhos fumegando de ira. Meu coração palpitou tão forte que parecia que iria sofrer uma pane. Olhei para aquele homem com os olhos arregalados de medo. Pus as mãos em meus olhos e quando os tirei só vi o vulto do homem subindo a escada. “E agora meu Deus. O que é que eu faço?”. Fui lentamente a minha estante para pegar a minha escopeta e de repente ouvi algo se quebrando lá encima. Parecia som de vidro. Sim, parecia da minha janela. Fui subindo lentamente as escadas com o cu que não passava nem um alfinete. Chegando ao ocaso da escada, um silêncio predominou aquele local. Até os insetos pararam de cochichar. Estava tudo em silêncio. Completamente. E a escuridão não dava lugar a nenhuma emissão de luz. O homem parecia ter sumido. Sim. Pulou pela a janela. Ao olhar minha janela, certifiquei-me de que ela estava intacta. Impossível! Eu estava enlouquecendo. Não pode ser! Peguei minha candeia e rodei por todo o alto de minha casa. Nada! O estranho homem havia sumido.
Fui ao meu banheiro para lavar o rosto e ao tirar a toalha de meus olhos, vi dois homens; um a minha direita e outro a minha esquerda; todos sorrindo com seus dentes defeituosos e seus olhos vermelhos como a de um coelho albino. Meus pelos se arrepiaram todos. Meu coração, agora sim, havia sofrido uma pane. Quase que caio de tanto tremer, pois minhas pernas oscilavam incessantemente. Ao olhar para trás, para vê-los, vi apenas meu cachorro me olhando com a cara de fome.

Aquela noite eu não consegui dormir. Parecia que tinha alguém me vigiando á noite toda. Pela primeira vez eu orei pra Deus. Cochilei quase às cinco da manhã e acordei com o canto do meu galo velho rouco. Ainda estava escuro. Ao olhar de minha janela, vi dois homens com enxadas na mão. Sim, eles me viram. Apontaram para mim a enxada que seguravam e em seguida jogaram uma pedra em minha direção. Agora sim havia quebrado a minha vidraça. “Tô fodido mesmo”, disse. Tirei meu rosto para não espirrar nenhum estilhaço de vidro em meus olhos. Ao olhar da janela, eles haviam sumido. “Ai meu caralho”, disse eu tremendo de medo.

Mas alguma coisa me dizia que não eram os mesmos homens que eu vi em minha casa.
Ao clarear o dia, peguei a minha caminhonete e fui até a cidadezinha para saber se tinha alguma novidade. Sentei em uma lanchonete fuleira e vi vários velhos conversando sobre um assunto que me chamou muita atenção: era de um assassinato de dois homens que haviam participado da morte de um padre defensor de causas humanas. “Dois homens?”, perguntei-me. “Por acaso já acharam os corpos desses dois vagabundos?”, disse eu para aqueles velhos. “Ainda não seu intrometido”, disse-me um deles. “Valeu”, respondi.


Ao chegar em meu barraco, surpreendentemente não vi o pirata vir me recepcionar. Era a primeira vez que vi isso acontecer. Chamei-o por toda a parte da casa, porém ele não me atendia. Já estava bastante preocupado, afinal aquele passa fome era o meu único companheiro. Finalmente ele me apareceu com um pedaço imenso de osso na boca. “De onde tu tirou  isso, rapá?”, perguntei-lhe. Ele me abanou o rabo e lentamente foi me levando até onde havia encontrado aquele osso. Era no meu milharal. Chegando até o local, conclui que aquela ossada era dos dois homens mortos que me apareceram naquela inesquecível noite em que eu não dormi a noite toda. Foram enterrados bem no meu milharal. Que desova. 


Por Patrik Santos

terça-feira, 11 de junho de 2013

Sexo no Cemitério


Todo dia, após largar o seu serviço, Vicente rumava para um bar que se localizava perto de sua casa. Encontrava-se com os seus amigos e bebia até o diabo dizer chega.

Sentado em sua mesa, rodeada de amigos, Vicente enxergou uma linda mulher que bebia sozinha no balcão do bar. Não era a primeira vez que Vicente viu aquela moça ali, sozinha e visivelmente triste. Já tinha lhe visto outra vez, parecia ter sido na noite passada. Achou ela tesuda demais, porém não teve coragem de ir até lá e lhe galantear. 

Naquela noite, porém, Vicente tomou coragem, assim como várias doses de conhaque, e foi até a linda moça de triste aparência para arriscar uma paquera.

- Boa noite, moça. Permita-me sentar ao seu lado? – Disse educadamente Vicente.

- Fique a vontade. – Respondeu a moça.

- Sempre lhe vejo por aqui. Moras aqui perto? – Disse Vicente.

- Sim. Bem aqui próximo. Sou novata. Faz poucos dias que me mudei. – Concluiu ela.

- Muito prazer, meu nome é Vicente.

- Prazer.

-Como você se chama?

- Isso realmente importa? – Perguntou ela.

Vicente levantou duas vezes a sua sobrancelha e disse:

- Realmente não. Você não quer ir para outro lugar?  - Perguntou ele com o coração palpitando por sexo.

- Sim.  – Disse a moça.

Segurando a mão da moça, Vicente retirou-se do bar e saiu para a rua em rumo a um motel mais próximo.
A moça estava gelada. De fato que fazia um frio intenso, mas a sua temperatura era bastante fora do normal. Vicente nem deu a mínima para isto, pois julgava que a moça estava apenas nervosa.

Chegando próximo a um cemitério, a moça fez uma proposta inesperada a Vicente. Disse-lhe que tinha uma fantasia sexual: transar dentro de um cemitério. Vicente não gostou da proposta, mas quando viu que a moça lhe fazia menção de desistir de tudo, ele aceitou prontamente.

A moça deitou-se em um túmulo e começou a se despir. Vicente vislumbrou a linda moça e ficou encantado. 

De fato a moça era muito atraente. Lentamente também foi se despindo. A moça já o chamava freneticamente em cima de um túmulo. “Vem me possuir, garanhão”, dizia ela. Nunca ele poderia imaginar que a moça era tão louca daquele jeito. Gritava chamando-o para que este a comesse logo. Vicente deitou-se em cima dela e é escusado dizer os detalhes daquela transa.

O clima estava bom, até que a moça pediu algo que ele jamais imaginaria que ela pedisse. Era algo doentio. A mulher pediu para que ele destampasse o túmulo com o qual eles estavam deitados, e de lá tirasse o cadáver para que eles mantivessem relação com ele.

- Você está louca? –  Redarguiu ele.

- O defunto é fresco. – Disse ela.

A eloquência da moça, bem como a sua beleza cativante, convencera Vicente que fez tudo aquilo o que ela pedira.

De fato, o corpo ainda estava em bom estado. Parecia ter sido enterrado há quatro dias. Era de uma mulher.

Nunca Vicente imaginaria se vendo a cometer tal ato. A necrofilia era algo que o próprio repudiava.
Vicente, então, fez sexo com o defunto.

De repente uma luz foi posta em sua direção. Vicente olhou para aquele clarão e viu a mulher desaparecer. Ele estava realmente ébrio. A luz era da lanterna do coveiro que viera ver o que estava acontecendo no jazigo.

A cena que o coveiro viu não lhe deixou tão admirado. O que mais lhe deixou pasmo foi ver o homem praticar sexo oral com o cadáver.

- O Que você está fazendo aí, amigo? – Perguntou o coveiro.

- Nada. Apenas sexo. – Disse Vicente.

- Mas com um cadáver? – Disse o coveiro.

- Foi à moça que me instigou.  – Disse Vicente.

- Que moça, cara. Só vejo um defunto aí.

Vicente olhou para um lado, olhou para o outro e, meio atordoado, sem saber onde estava, viu a foto da mulher no jazigo em que ele estava deitado, e disse:

- É essa mulher aí da foto.

-  Mas essa mulher já morreu. – Disse o coveiro.

-Impossível! Transamos agora a pouco. Ela que me trouxe até aqui.

- Não invente, seu doente. Você transou com o seu defunto.


- Ai que merda! – Disse Vicente.


Por Patrik Santos

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A Garota da Internet


Eu andava muito deprimido doutor, pois a minha namorada havia me traído com um cara que se dizia muito meu amigo. Flagrei-os justamente no ato do sexo selvagem que os dois praticavam. Eu nem sabia que ela curtia aquilo. É como dizem: "o corno é sempre o ultimo a saber."

Meus planos de felicidade com ela se dissiparam.

Passei dias sem me alimentar direito. A insônia foi a minha companheira por várias noites. Corpos estranhos, que eu jamais poderei explicar, se apossuíram de mim.

Sofri uma mutação devastadora.

Para me desvencilhar daquele espetáculo nada apreciador, eu comecei a usar a internet para amenizar o meu sofrimento. A recomendação viera de um amigo meu. A minha insônia, no entanto, só fez aumentar, pois eu ficava horas em frente ao computador conversando imoralidades e me masturbando só pelo o fútil fato de sentir prazer. Dias depois, eu excluía aquela pessoa e começava uma nova amizade. E assim sucessivamente. De fato aquilo estava me destruindo.

E foi quando eu a conheci, meu amigo. Ah, Linda! Olhos redondos como a de um desenho japonês, um sorriso daquele que não expõe os dentes, um rostinho de menina, porém o corpo já era de uma linda mulher.

Era uma garota perfeita para preencher a lacuna que me faltava.

Inteligentíssima! Ela me decifrou apenas pelo o seu vasto conhecimento de astronomia. Eu fiquei apaixonado por ela. Até fizemos sexo virtual. Chorava em minha cama quando ela não ligava a noite. Morava tão longe mim. Mas por morar tão longe assim, não deveria ter sumido. Ela me enviou um lindo pingente, a estrela de Davi. Adorei!

Um dia resolvemos nos encontrar. Marcamos no aeroporto, pois eu iria lhe apanhar. Ela não apareceu. Liguei para ela, mas deu número inexistente. Meu coração apertou meu peito a ponto de sufocar-me.
Fui para a casa. Entrei no meu computador para procurar o seu email e não encontrei. A sua rede social havia sumido. Pesquisei a nossa conversa gravada em meu computador e estranhamente não encontrei. Pus as mãos no meu pescoço para apalpar o meu pingente, e não senti. Estranho. Ela sumiu estranhamente de mim, amigo.

Todo aquele espetáculo, nada apreciador, voltou. Cheguei a pesar quarenta e cinco quilos. Perdi líquidos e mais líquidos por chorar incessantemente. Senti fortes dores no meu corpo. Minha cabeça flutuava. Parecia que ela não estava fincada em meu pescoço. Tentei todas as noites viajar para os braços dela através da viagem astral. Porém eu nunca a encontrava. Ela havia realmente sumido.

- O que você acha de tudo isso, doutor? – Perguntou deitado em um sofá da clínica o autor desta historia.

-  Você parece lúcido perante tudo o que diz. Mas você não mostra certeza em suas palavras. Você chega a hesitar sobre tudo isso que aconteceu com você.

O autor da historia parecia não entender nada no que o doutor lhe falava. Parecia que realmente a sua cabeça não estava fincada em seu pescoço.

- Você tem alguma prova que essa moça existiu? – Perguntou o doutor.

- Bom.. Nenhuma. As provas sumiram. – Respondeu o autor.

- Então prepare-se para o que eu vou lhe dizer, amigo. Relaxe e tente não se abater com o que será dito. Cheguei à conclusão de que esta moça não existe. Foi apenas uma criação do seu desespero de conhecer alguém. Ela é a sua criação, meu amigo. Ela não existe. Sinto muito! Casos como o seu são normais em minha clínica.

O autor desta historia colocou as mãos em sua cabeça e a sacudiu violentamente. Parecia não acreditar na mais pura verdade que o doutor lhe dizia.

“A solidão é uma forma de opressão. No meio de tantas pessoas supérfluas, acabei conhecendo uma pessoa perfeita. Essa pessoa, no entanto, não passava de uma criação da utopia do meu ingênuo desejo de apreciação e devoção.”

Quinze dias depois, o autor deste conto se internou na clínica com um avançado estado de loucura.


Por: Patrik Silva

O Terrível Taxidermista


Depoimento do subalterno do conde da taxidermia ( pseudônimo dado ao assassino)

23 de novembro de 1876

“Cheguei naquela mansão em uma segunda feira bem cedo. De fato, aquilo estava mais para um palácio e eu teria que cuidar de tudo aquilo sozinho, pois o conde não contrataria mais ninguém além de mim. Afirmou-me que me pagaria muito bem, bastaria eu fazer o meu serviço bem feito e não me meter nos negócios dele que tudo ficaria bem.

Ignoro o modo de sobrevivência do conde. Ele passava horas na sua sala que ficava no ultimo andar da casa. Era-me proibido entrar ali. Ele mesmo se dispunha a limpar o lugar.

Todas as tardes, prestes a escurecer, eu ouvia um som alto de musica vindo da sala do meu patrão. O que me intrigava era que sempre tocava a mesma música: a segunda sinfonia de Beethoven.

Eu estava ciente dos assassinatos, mas nunca poderia imaginar que era o meu patrão.

A cidade passava por um pânico nunca visto por lá. Os lobos estavam furiosos e famintos, e já se começava a dizer que um homem, idêntico a um lobo, rodeava a cidade toda a procura de  vítimas. Todos diziam ser um lobisomem. E algumas pessoas diziam ser o meu patrão.

Ele adorava se fantasiar de filantropo. Realizava os maiores bailes da cidade. Frequentava teatros e grandes óperas. Era sempre visto usando uma longa capa vermelha e uma cartola preta.

No dia seguinte ao baile, ele perguntava a mim se eu havia reparado no casaco de pele de fulano, ciclano e beltrano. Eu o olhava confuso e dizia não. Ele respondia tudo bem, e voltava para a sua sala secreta. Muito me intrigava aquelas perguntas do meu patrão. Parece que aquelas pessoas, com roupas luxuosas,  incomodavam o meu patrão. Ele os olhava com uma ira que jamais poderei decifrar a vocês.

Várias pessoas desaparecidas. Começava a crescer o número.

  Os caçadores, que foram contratados para matar os lobos, sumiram, assim como as duas filhas do barão Visconde que adoravam um casaco de pele e um empalhador de animais, pessoa com a qual o meu patrão tinha muita afinidade.

Num funesto dia, em que ele abriu a sua casa para realizar um grande baile, ele sentou-se no banco do piano e começou a tocar uma música de Beethoven, a sonata ao luar. Ele tocava piano magistralmente. De repente, quando a música exigia umas batidas mais fortes em suas teclas, meu patrão começou a se contorcer todo. Seu pescoço se entortou e suas veias pareciam que iam se dilatar. Seus olhos ficaram vermelhos como a de um lobo. As pessoas diziam: vejam! Ele está se transformando. Todos se afastaram com muito medo. Quando a música acabou, meu patrão estalou seus dedos e disse: “Muito obrigado”. Os presentes sorriram e bateram muita palma a ele.

Um dia, durante um grande baile a máscaras que ele realizaria em sua mansão, ele me deu oito horas de folga para passear um pouco em qualquer lugar que eu quisesse. Eu fui visitar meus filhos, pois fazia meses que eu não os via.

Quando voltei, havia cinco objetos pendurados na parede sobre um pano preto. Os convidados foram chegando. Várias pessoas se aglomeraram assustadas no salão. O conde, o anfitrião da festa havia sumido. 

A segunda sinfonia de Beethoven tocava como música de fundo.

De repente os panos foram descobertos e uma voz, que ninguém sabia dizer de onde vinha, e que estava mais para um poema, disse o seguinte: Vejam essas vidas em jogo. Esses meros mortais. O mundo de vocês não poupa nem a paz. Vejo a beleza deles no corpo de alguém, de alguém sem escrúpulos que não ama ninguém. O nosso verde caindo. Nativos no chão. Minguando um lar e entrando em extinção.

Todos se olharam com muito medo e chocados com o que viram, pois as cabeças dos dois caçadores, as duas filhas do conde Visconde, que realmente adoravam um casaco de pele, e o empalhador de animais, foram todos cruelmente vítimas da taxidermia humana.


O conde havia realmente sumido”. 


Por Patrik Santos

Alguém no Sótão



 A cegueira me atacou quando eu tinha aproximadamente 33 anos. Foram nos meados dos anos 90.

A minha deficiência visual, não obstante, não era uma cegueira total. Eu tinha uma pequena percepção da luz. Mas infelizmente meu médico me alegou que eu a perderia também durante o tempo.
Eu sentia incomodar a minha esposa. Ela já não era mais a mesma comigo. Nós não tínhamos nem um ano de casados e já brigávamos como se tivéssemos dez.

Em minha casa, eu comecei a enxergar vultos passando de um lado para o outro. Logo de princípio achei que estava ficando louco, mas acreditem; eu não estava louco. Eu estava em minha plena consciência do que via e ouvia.

No sótão, havia um constante ruído que me arrepiava.  E não, não eram ratos. Eu sempre o escutava após enxergar os vultos que me alucinavam. Minha esposa, no entanto, não ouvia e nem enxergava nada. Dizia que era algo da minha cabeça.

Mas havia. Eu sei que havia.

Eu já estava ficando paranoico com aquilo. Á noite, deitado em minha cama, eu os via passando de um lado para o outro. Não queria acordar minha esposa. Ela não poderia ser cumplice da minha possível loucura. Após enxergar aqueles vultos, eu ouvia novamente os  sons terríveis vindo do sótão. Era algo aterrorizador. A única coisa que me restava a fazer era tapar os ouvidos para não escutar aqueles sons sombrios.

Na manhã seguinte eu contava a minha esposa. Ela me olhava com desconfiança e dizia que iria me levar a uma clínica psiquiátrica. Ela achava que eu estava enlouquecendo. Talvez. Mas novamente afirmo que não estava. Aceitei ir para provar a ela que não estava.

Na clínica, fui dispensado pelo o psiquiatra. Ele recomendou-me dormir mais e parar de fixar meus olhos na luz, coisa que de fato eu fazia. Disse-me também para procurar uma igreja, pois a nossa alma também precisa de conselhos. Disse a ele que pensaria no caso.

Em casa, novamente eu via os vultos e sucessivamente os ruídos vindos do sótão.

Sim, eu precisava ir a uma igreja conversar com um padre ou alguma pessoa santa.

Fui a uma igreja que ficava bem próxima de casa. Tão próxima ela era e, no entanto, nunca havia entrado lá. Entrei e fui bem recepcionado por uma freira. Contei, com certo receio, meu estado a ela. Disse o que eu via e o que enxergava. Ela me indicou o padre da paróquia. Tive uma sucinta, porém benéfica conversa com ele. Pediu-me fé em nosso senhor Jesus Cristo. Alegou-me veementemente que eu poderia enxergar os vultos em minha casa. Bastaria ter fé e sensatez, que se fosse para eu enxergar aquilo, eu enxergaria. Mas se não fosse, pediu-me para sair de lá. Com uma candeia, ligado a fogo, pediu para que na hora do ruído eu fosse averiguar o que estava ocorrendo por lá. Rezou um credo para mim e me desejou paz no espirito.
Eu faria tudo aquilo, conforme ele me indicou.

As exato 23:30, enxerguei novamente o vulto passar rente a mim. Dessa vez eu senti um calafrio que jamais havia sentido antes. Meus pelos se arrepiaram causando um frio intenso que eu pensei que iria desmaiar. 

Parece que o mal sabia que eu o iria perseguir.

Após o medo se afastar de mim, persignei-me dez vezes. Senti que estava pronto para enfrenta-lo. Fui até a escada que dava acesso ao sótão e subi lentamente para não provocar ruídos. Meus pés tremiam e ameaçavam-se ceder. Apoiei-me vagarosamente no corrimão e fui subindo com um medo indizível.
Ao subir, percebi uma luz acesa, mas o padre advertiu-me: leve uma candeia, pois só a luz do fogo fará você enxergar.

Pus a candeia sobre a minha visão, como o padre me aconselhou, e ao ver sobre a luz da candeia, vi dois corpos simultaneamente colados. Estavam em estase e gemendo profundamente baixo.

Petrifiquei-me. Eu pude enxergar a minha esposa sendo possuída por um homem que desconheço a face.


Maldita perfídia. Maldita concupiscência.


Por Patrik Santos

A Surpreendente Historia da Casa sem Porta




Eu sempre fui um exemplo de padrasto. Servia de paradigma para muitos. Eu amava aquelas crianças como se fossem meus filhos. A Caroline e o Felipe eram as crianças mais doces do mundo. Porém, eles sabiam que eu não era o pai legítimo, e sabendo disso, sempre soltavam esta verdade quando eu os proibia de fazer algo. Eu os pegava e os colocava de joelhos no milho solto granulado. Os joelhos das crianças ficavam com uma inchação preocupante e sua cor, era a de um azul marinho muito escuro; pediam-me aos prantos que eu tivesse compaixão, porém em debalde. Neste ponto eu era um homem demasiado rude. Três dias depois do castigo, o inchaço virava uma espécie de pústula e a mãe deles, mulher que eu a cultuava como uma santa, espremia aquele carnegão podre que voava feito um jato.

Admito a vocês que eu tinha uma mania pertinente, a bebida. Não obstante, a bebida não era o meu único vício. Comecei a usar drogas destrutivas que me causavam alucinações e viagens paranormais. Eu usava aquelas substâncias com a pretensão de esquecer o homem que matei em uma guerra. Elas me acalmavam os nervos; era a única solução para enfrentar este caso e relevar as travessuras das crianças que sempre quebravam uma de minhas coleções de bebidas que se encontravam na adega.

Minha mulher, como disse antes, era uma santa. Uma mulher resignada. Uma verdadeira mulher submissa ao homem. Ela nunca reclamava das minhas bebidas e de minhas drogas. Porém eu virava o belzebu quando chegava naquela casa e os encontravam trancados no quarto.

Eu rodeava a casa inteira a procura de um objeto para quebrar aquela porta. A porta, no entanto, era de uma madeira bem firme e nunca cedia. Tentei uma vez quebra-la com um botijão de gás, mas o que aconteceu, foi que a porta rachou-se e eu pude ver apenas os rostos dos pestinhas preocupados. A porta era a minha inimiga.

Meus dias de boemia não paravam.

Um certo dia, cheguei em casa cem por cento sóbrio. Não encontrei ninguém na casa. A primeira coisa que pensei foi que a mulher foi embora para a casa de sua mãe. Não me importei de imediato. Passaram-se dois dias. Três dias. No quinto dia eu comecei a me preocupar. A solidão estava me corroendo assim como as bebidas e as drogas.

Porém as drogas já não me acalmavam como antes. Ela me deixa mais apreensivo. Eu tinha que arrumar outro meio de me acalmar. E achei!

A janela do segundo andar tinha uma visão que eu nunca tinha apreciado antes. Nela eu via cada situação. Eu ria da vizinhança cafona que tinha.

No entanto, tinha uma casa muito curiosa, e que jamais a tinha visto antes. Nela, várias pessoas moravam. 

Porém, um fato me deixou intrigado. A casa, surpreendentemente, não tinha portas, apenas janelas.

Como poderiam as pessoas se adentrar ali? Todos os dias eu me fazia a mesma pergunta.
A janela tornou-se o meu cantinho predileto da casa. “Antes era a adega, agora é aqui”, Eu dizia a mim mesmo.

Eu fiquei paranoico com aquela casa. De manhã cedo, o movimento nela já era constante. Às vezes até de madrugada. Eu ouvia vários cantos vindos de lá.

Um dia saí e fui averiguar aquela intrigante casa. Rodeei-la e não encontrei a maldita porta. Procurei algum modo de entrar nela, porém não havia nenhuma ombreira. A janela era bem alta; e qual casa se entra pela a janela? “A entrada só pode ser por um subterrâneo”, conjeturava.

Voltei para a casa com uma dor de cabeça impertinente. Aquela intriga estava me acabando. Eu já nem dormia direito. Confesso que sentia saudades das crianças e da minha santa mulher.

De repente, um som de sino veio do segundo andar da casa. Ao chegar lá, constatei que o som vinha daquela maldita casa sem porta. Pus a cabeça para a fora da janela, e ao olhar para aquela casa sem porta, vi as duas crianças e a minha mulher com os rostos tristonhos e cabisbaixos olhando da janela da casa.  Fiz-lhes um breve aceno, e este não foi respondido.

Não sei por que, mas me veio uma vaga lembrança de que já estive naquele lugar onde eles se encontravam.

No apogeu de minha dúvida e intolerância, um homem, que ignoro o rosto, disse-me:

- Triste por não estar lá?

- Nenhum pouco. – Respondi-lhe.

- Pois deveria. – Disse ele.

- Por que deveria?

- Lá é uma igreja.  E também posso chamar de céu.

- Como assim?

Ele conservou-se mudo.

- Bom, sendo assim, acho que queria estar lá.

- Sabes que não pode né!

- Como não posso? Eles são a minha família. Eu os amo.

- Assassino e suicida não são bem vindos ali. – Disse-me.

- O que quer dizer com isso, sua alma penada?

- Busque em suas reminiscências. – Disse ele com uma voz que soava como um eco estrondoso.

- Não consigo! – Respondi com uma cólera indizível.

De repente lembrei-me de tudo o que aconteceu.


Naquela noite fria e chuvosa em que fiz uma rachadura com o botijão de gás, entrei no quarto e matei-os com a minha pistola, meu precioso instrumento de trabalho.


Por Patrik Santos