segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Fiel Preconceituoso




Seu Joaquim, senhor de sessenta e poucos anos, todos os dias, a beirar da tarde, ia para a sua janela e por lá ficava até o anoitecer. Era um homem muito religioso, porém tinha um preconceito assíduo com as outras religiões.

 Quando uma procissão passava pela a sua rua, este, da sua janela, começa a caluniar e xingar os transeuntes. Os fiéis olhavam para ele petrificados e tristes pela a reação do homem.

Quando alguns pregadores batiam na casa das pessoas, este gritava da sua janela para eles procurarem o que fazer.

Quando havia um culto na rua, este da sua janela começava a jogar frutas e legumes podres.

Até que uma vez ele injuriou outro grupo de pregadores, e um dos pregadores disse para ele o seguinte:

 - Amanhã Jesus vai bater em sua porta. Trate-o bem.

Joaquim o olhou de soslaio e começou a xinga-los novamente.

No dia seguinte, um homem com um olhar triste, porém confortante, de roupas longas e chinelos estragados pelo o uso, bateu na porta de Seu Joaquim. Este lhe olhou dos pés a cabeça e perguntou a ele o quê ele queria. Joaquim percebeu um profundo golpe nas mãos do homem. Na cabeça do homem poderia notar vários furos, porém cicatrizados. O homem estendeu a sua mão visivelmente açoitada, e pediu um prato de comida para seu Joaquim.

Seu Joaquim o olhou com ar de desprezo e disse:

- Dê meia volta e caia fora da minha casa.



Autor: Patrik Santos







A Intrigante Lenda do Boto




 A história que será contada aqui relata um caso de sumiço de várias garotinhas em um interior do norte do Brasil. O alvo principal do sequestrador era meninas entre dezesseis e dezoito anos.

Apesar de ser um conto popular, pois as moças nunca voltavam para detalhar e afirmar o fato, tudo que será contado aqui jamais poderá ser questionado e averiguado. Caso você questione, o pior pode acontecer com você; e caso você queira, por uma impertinente intriga que lhe apossua, averiguar o caso, você será mais uma vítima do homem da camisa e chapéu cor de rosa.
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Interior do Pará. 1923.

Maria, filha de dona Lucinéia, era a mais nova das cinco irmãs. Adorava um baile e uma festa de São João. Era conhecida como a namoradeira da cidade. De fato, a menina era demasiada linda. Possuía um lindo cabelo encaracolado que cobria a sua face vermelha como a cor do jambo. Todos os homens da cidade já lhe haviam pedido em casamento, porém a moça negava ao pedido de todos. Dizia que era jovem demais para se casar, e de fato era.

No entanto, havia um jovem que jamais lhe havia pedido em casamento por ser demasiado tímido. O jovem chamava-se Francisco, mais conhecido como Chico da Carroça. Este daria até a sua vida pela a linda Maria.

No dia de São João, comemorado do dia 24 de junho, houve uma pequena festa na cidade que ficou marcado para sempre.

No aglomerado de pessoas que dançavam e curtiam as músicas de São João, Maria enxergou um lindo jovem que apreciava uma fogueira que estava montada bem no núcleo da festa. De súbito, Maria se apaixonou pelo o rapaz que estava vestido de rosa e possuía um chapéu da mesma cor que a roupa. O homem percebeu que estava sendo encarado por alguém. Diretamente seus olhos se dirigiram para a moça que se assustou com o relance do rapaz. Este lhe fez um aceno e seu aceno lhe foi bem correspondido, pois a moça se dirigiu na direção do rapaz.

Conversaram por uns instantes e logo se afastaram da multidão.

- Você quer ir para um lugar mais calmo, minha deusa? – Perguntou ele.

- Sim. – Disse ela.

Porém, os dois não sabiam que estavam sendo avistado pelo o jovem Chico da Carroça. Este os perseguiu.

Um ciúme inaudito tomou conta do rapaz. O jovem, que segurava a mão da moça era, de fato, um príncipe perto do humilde e rústico Chico da Carroça.

Maria e o estranho homem dirigiam-se para um rio que se localiza ao norte da cidade.

- O que será que ele quer comigo? – Perguntou-se a moça. – Vou até o fim com isso. Ele vale a pena. Deve ser endinheirado.

Cruzaram um caminho nunca antes transitado. A mata virgem soltava seu odor por nunca serem pisoteadas. A escuridão era a única vista dos dois.

A paixão de Maria oscilou por uns instantes, mas assim que eles chegaram no rio, o homem deu um beijo que lhe tirou todo o receio de lhe seguir. Maria, por conselhos de sua mãe e do povo supersticioso, por diversas vezes tinha tentado tirar o chapéu do moço, mas este sempre lhe repelia.

Durante o longo beijo do casal, Chico da Carroça apareceu e teve uma reação que nem ele mesmo esperava. Gritou desesperadamente o seguinte:

- Você nem conhece ele, Maria! Cuidado!

- Égua, moleque. Cai fora daqui! – Disse Maria.

Chico da Carroça se sentiu desprezado pela a moça. Afastou-se por uns metros, mas uma intuição lhe pedia para voltar.

Ao se aproximar novamente do rio, Chico da Carroça vislumbrou uma cena terrível:

O estranho homem começou a sofrer uma mutação que Chico da Carroça denominou como demoníaca. As vestes do homem foram todas rasgadas e seu corpo possuía uma massa lisa e pastosa. Sua cabeça ficou do formato de um golfinho e seus membros superiores e inferiores viraram barbatanas. Maria gritou desesperadamente, porém tarde demais, pois o animal a havia levado para o fundo do rio para de lá nunca mais voltar.

Chico da Carroça correu para salvar a sua amada, porém foi tarde demais.


Por Patrik Santos













quinta-feira, 11 de abril de 2013

A Vingança que Não foi Póstuma



Não me lembro de quando tudo isso começou. Nem me lembro da dor que eu sentia. Só me lembro da feição de fúria dele.

O que ele via em sua frente ele me acertava. Tenho vários hematomas pelo o meu corpo.

 A palma da minha mão inchava quando ele me batia com a sua palmatória. Eu me contorcia de dor. Minha mão tremia e eu achava que eu nunca mais apertaria a mão de ninguém.

Ele não tinha o direito de me fazer isso. Ele nem era o meu verdadeiro pai.

 O que mais me odiava, era que a minha mãe não fazia nada. Infelizmente ela também sentia medo dele.

Quantas vezes eu passei fome. Eu via meus irmãos comerem o melhor que tinha na mesa. Eu apenas olhava. O que sobrasse eu poderia comer. Isso apenas quando sobrava.

Na minha adolescência eu comecei a enfrentar ele. Ele já sentia um receio em me enfrentar. Quão covarde ele era. Quão covarde foi.

Eu sabia que aquele filho da puta tinha uma arma, porém eu jamais imaginava que um dia ele iria me atirar. Quão covarde é. Quão covarde foi.

Pegou-me desprevenido. Dia em que eu o desrespeitei e lhe mandei para longe. O tiro veio certeiro na minha cabeça. Eu nem senti dor, apenas vi o meu corpo cair no chão. Demorei a perceber que eu estava morto. Com certeza eu não fui o primeiro a passar por isso.

 Ele pegou o meu corpo e enterrou em nosso quintal, lugar em que várias vezes ele enterrava as galinhas que morriam. Ninguém percebeu. Minha pobre mãe não estava em casa neste dia.

Hoje estou preso neste mundo. Preciso que alguém me liberte dele. Talvez não.

 Talvez eu deva me vingar daquele covarde. E é o que vou fazer.

Sua arma está em sua gaveta. Peguei-a. Mirei em sua direção, mas o tiro não saiu, pois sou apenas uma alma que não pode se vingar.

Acho que a impunidade sempre vai reinar.

Autor: Patrik Santos










A Fantástica Historia da Menina que Jogava Comida Fora




Ana era uma garotinha de nove anos com várias virtudes.

Muito estudiosa, era o orgulho da família. Respeitava não só aos seus pais, mas também aos mais velhos. Alegre como toda a criança, adorava correr e pular corda. Porém tinha um defeito: adorava jogar fora a sua comida.

Sua mãe servia o seu almoço com muito prazer e afeição, pois esta amava cozinhar. Mas quando a sua mãe virava as costas, ela jogava toda a sua comida no lixo e pedia mais para a sua mãe. Sua mãe vinha e lhe colocava mais. A menina olhava para a comida, e novamente a jogava tudo no lixo.

A mãe de Ana ficava tão contente em ver a filha se alimentar direito. Mal sabia ela que a danadinha jogava tudo no lixo.

Sua mania de jogar a comida no lixo não tinha fim. Até que certo dia lhe aconteceu algo que ela jamais imaginaria.

Em mais um dia de almoço, Ana jogaria novamente toda a sua comida no lixo. A sapequinha não tinha jeito.

 A saborosa macarronada com presuntos, feitos por sua mãe, chegaria ao lixo com um triste desperdício. Ela estava acompanhada de ervilhas, ovos cozidos, cebola e palmito.

Mandou a sua mãe repetir, e novamente jogava aquela delicia toda no lixo.

Beliscou a sobremesa e foi para o pátio da sua casa brincar como lhe era de costume.

Adorava brincar com as suas bonecas. Alimentava-as e se deitava no pátio para as fazerem dormir.

 De repente Ana sentiu uma corda lhe amarrarem os pés. Assustada, olhou e ficou pasma. Era o macarrão lhe amarrando e lhe dando um nó demasiado forte. Ao tentar chamar a sua mãe, Ana foi amordaçada pelo o presunto fazendo-a ficar quieta sem dar um pio.

Nisso, as ervilhas, os ovos, a cebola e o palmito, vieram até ela, e com os cenhos franzindo lhes interrogaram:

- Por que nos desperdiça? – Perguntou a ervilha irada.

- Isso! Por que nos joga fora? Não gosta da gente? – Disse os ovos.

- Nos trata com desdém, né! – Disse chorando a cebola.

A menina, lógico, não podia falar, e o palmito, para lhe castigar um pouco, começou a fazer cócegas em seu pé. A menina ria, mas na verdade queria chorar. Começou a se desvencilhar das guloseimas, porém em vão.

A cebola soltou o seu bafo nos olhos da garotinha até a fazerem lagrimar. O palmito continuava a lhe fazer cócegas. A ervilha e o ovo, que pareciam os mais sensatos, lhes mandaram parar e disseram o seguinte:

- Como pode: uma menina tão bonita como esta fazendo uma coisa tão feia assim. Há várias crianças que desejam tanto a gente e você nos jogando fora.

- Prometa que nunca mais fará isso novamente, Ana!

A menina meneou a cabeça e todas as guloseimas bateram palmas e fizeram a maior festa.

- Solte ela macarrão. – Disse a ervilha.

Assim, o macarrão soltou suas pernas e suas mãos. O presunto, que era mudo, destapou a sua boca e também foi embora. Ana viu todas aquelas guloseimas com um espanto que jamais havia tido. 

Assim, as guloseimas partiram e lhe acenaram um condescendente adeus. De longe, a cebola gritou: e que isso nunca mais se repita! Hunf!

Quando Ana se recuperou, prometeu a Deus que nunca mais jogaria fora a sua comida.

Por Patrik Santos









sexta-feira, 5 de abril de 2013

O Ribeirinho




Dois homens ricos, Carlos e Roberto, amigos de infância, precisavam atravessar um rio para chegarem a um determinado lugar; foi quando avistaram um ribeirinho que vinha em sua canoa.

 Os homens ofereceram dinheiro ao ribeirinho para os levarem aos seus destinos.

O ribeirinho prontamente assentiu.

- Você já conheceu a Cidade grande? – Perguntou Roberto ao ribeirinho

- Não. – Respondeu o ribeirinho.

- Poxa, amigo. Então você perdeu uma parte da sua vida. – Respondeu Roberto.

Os dois riram.

- Você terminou os seus estudos, seguiu alguma faculdade? – Perguntou Carlos.

- Não. – Respondeu o ribeirinho.

- Que pena! Você perdeu a metade da sua vida. – Disse-lhe Carlos num tom de escárnio.

Nisso, uma tempestade violenta fez a canoa virar. Os três caíram.

 - E Agora, não sei nadar.  – Disse Carlos .

- Nem eu – Redarguiu Roberto.

O ribeirinho olhou para os dois e respondeu:

- Então, meus amigos, é uma pena. Vocês perderam as suas vidas.

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quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Viela



Era uma noite chuvosa e fria. Os pingos da chuva fustigavam meu guarda chuva com uma violência arrebatadora. Eu estava ensopado e louco para chegar em casa.

 Foi quando eu decidi pegar um atalho por uma viela que eu nunca havia pisado antes. Confesso que sentia medo de passar por ela. Muitos me diziam coisas absurdas sobre aquela ruazinha. Mas, em agonizante vontade de chegar em casa e me aquecer na lareira, naquele dia eu ignorei qualquer fato que me disseram a seu respeito.

Peguei-a sem relutância.

Segui em passos acelerados, porém trôpegos, pois o frio intenso quase congelara o meu pé esquerdo. Eu seguia e olhava para trás. Os ratos se locomoviam hereticamente para lá e para cá. Pareciam assustados com alguma coisa.
 Foi quando eu vi uma velha, suja e imunda, sentada no lado de uma lata de lixo comendo algo que acabara de apanhar.

Passei rente a ela, porém nem sequer a olhei, pois não queria ser incomodado por uma indigente, ainda mais com a chuva que me importunava. Com uma voz metálica, ela me pediu um pedaço de pão e alguma coisa quente. Não a respondi e segui no meu trajeto. Pediu-me o paletó para lhe aquecer. Neguei-a. pediu-me dinheiro. Ignorei-a.

 Enfim ela me deixou em paz.

A viela parecia não ter fim.

Agora, em minha direção, vinha um homem jovem com uma aparência rústica e ignorante. Perguntou o meu nome e se eu tinha filhos. Não respondi. Permaneci calado assim como ficara com a velha mendiga.

Prestes a chegar ao ocaso da viela, uma criança, possuindo suas vestes rasgadas, pediu-me solenemente meu guarda chuva para proteger sua mãe que se encontrava enferma e deitada sobre um jornal e um papelão. Disse-lhe para encher o saco de outro, pois eu já me encontrava esgotado.

No dia seguinte, acordei meio atordoado e sem saber onde estava. Recuperando minha energia e consciência, cheguei à conclusão que estava em um hospital. Rapidamente coloquei minha mão no bolso e certifiquei-me de que meus pertences ainda estavam no mesmo lugar.

Ao surgir uma enfermeira, perguntei: qual a razão de eu estar aqu?i Ela olhou-me firmemente nos olhos e alegou:

- Na noite passada, você estava com princípio de hipotermia, porém; uma senhora, um homem, que lhe trouxe nos braços, uma criança, que pedia ajuda, pois a sua mãe estava com tuberculose, lhes trouxeram até aqui e lhe estimaram melhoras.

Por: Patrik Silva










segunda-feira, 1 de abril de 2013

O Anjo Abnegado




O amor é mesmo incondicional. Eu nem dava motivos para aquela moça ame amar. Ao contrário: eu só dava motivos para ela me odiar.

E, apesar de não dar motivos, ela me perseguia.

Porém, ela nunca se aproximava de mim para expor os seus sentimentos; só mantinha a distância e ficava me fitando com certo sentimento de veneração.

 Sua aparência não era uma aparência que me aprazia. Não vou contar seus defeitos físicos, pois acredito que isso não lhes convém; só afirmo que ela tinha uma aparência horrenda. Deus que me perdoe de dizer isto.

Eu e meus amigos sempre a humilhávamos e fazíamos dela um divertimento cotidiano. Aquela garota passava por diversos constrangimentos.
 E, apesar de tanta humilhação, aquela moça não sentia raiva de mim, muito pelo o contrário, o seu amor só crescia.

Um dia, ao retornar para casa, um acidente ocorreu a uns quinze metros de mim. Corri para acudir a vítima, pois o carro que bateu fugiu sem prestar socorro. Ao examinar a vítima, notei que era aquela moça que tanto me admirava. Em sua mão direita, que encontrava semiaberta, havia uma carta espirrada de sangue que dizia o seguinte:

“ Perdoe-me por nunca expressar os meus sentimentos por você. Na verdade não sei se um dia terei. É por isso que estou lhe escrevendo esta carta, e hei de entregar hoje para você. Sempre você sai junto com seus amigos, mas quando eles se afastarem de você, irei correndo para entrega-la em suas mãos”.

Ass: sua admiradora revelada.

Li aquela carta com muito pesar. Foi triste saber que quando ela correu feliz para me entregar aquela carta, um carro veio e lhe tirou a vida tão prematuramente.

Depois daquele dia, várias vezes seu espirito me apareceu. Em minha casa, à noite, eu sempre me espantava com um peso pousando na minha cama. Era ela que sentava ao meu lado e me guardava como um anjo da guarda. Quando eu ligava o abajur, ela desaparecia.

Ela continuava me perseguindo até em sua morte.

Numa noite, em que ela estava prostrada em minha cama, eu disse-lhe o seguinte:

“ Perdoe-me por ter sido um injusto com você. Eu sempre me lembrarei de ti. Agora vá com Deus, meu anjo da guarda”.

Depois daquele dia ela nunca mais apareceu. Perdi um anjo.

Por Patrik Silva